quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

BC tem perda de quase R$ 90 bilhões com intervenções no câmbio em 2015.

Foi a maior perda anual desde o início da série histórica, em 2003.
Disparada do dólar em 2015 motivou prejuízo da autoridade monetária.
Resultados do BC com swaps
Lucro ou prejuízo em R$ bilhões
15,636,032,68-5,44-8,814,83,200,71,1-1,31-17,32-89,66200520102015-1000-75-50-2525
B
Com a disparada do dólar em 2015, o Banco Central registrou prejuízo recorde com as operações de "swaps cambiais" – instrumentos que equivalem a venda de moeda estrangeira no mercado futuro (derivativos) e que atenuam as pressões sobre o dólar no mercado à vista.

Em todo o ano passado, o BC contabilizou um prejuízo de R$ 89,66 bilhões com estes contratos. Foi a maior perda anual da série histórica do Banco Central, que começa, para anos fechados, em 2003. Até então, o maior prejuízo, em todo um ano, havia sido registrado em 2014 (R$ 17,32 bilhões).

De forma geral, o BC registra lucro com estes contratos quando o dólar cai e perde quando a cotação da moeda norte-americana sobe. Em todo ano passado, a moeda norte-americana subiu 48,49% sobre o real no que foi o maior avanço anual em 13 anos.

Avaliação do BC
Nos últimos meses do ano passado, no Congresso Nacional, o presidente do Banco Central,Alexandre Tombini, afirmou que, por outro lado, a alta do dólar valoriza as reservas internacionais. Esse valor, de acordo com o comandante do BC, supera as perdas com os swaps cambiais.

Ele também afirmou, na ocasião, que a autoridade monetária "nunca falou em segurar taxa de câmbio". "Falou em segurar volatilidade, permitir que os mercados funcionassem. Hoje temos um mercado de futuros que é bastante líquido. Ali estava a pressão", declarou Tombini naquele momento.

No fim de setembro, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que as operações de swap têm proposito de oferecer "hedge" (proteção) ao setor privado contra a alta do dólar.

"É uma proteção contra a flutuação do câmbio, que funciona bem em termos de ajuste das contas externas e as operações conferem proteção aos agentes privados. Isso significa que as empresas que têm dívida, compromissos em moeda estrangeira, podem se proteger com o swap. Isso atenua os impactos sobre o setor produtivo sobre a renda, sobre a produção, sobre o emprego, sobre a arrecadação", declarou ele na ocasião.

Custo de carregamento das reservas
Mesmo sendo um diferencial para a economia brasileira, em um momento de crise internacional e também interna, as reservas também têm o chamado "custo de captação" e carregamento – valor pago pelo governo para retirar recursos do mercado por meio da emissão de títulos públicos (operações compromissadas).

Estes valores foram injetados pelo próprio BC na economia ao comprar dólares para as reservas, e, por terem juros próximos à Selic (atualmente em 14,25% ao ano), têm um custo muito maior do que os juros externos. O custo de captação superou R$ 80 bilhões no primeiro semestre do ano passado.

Ainda de acordo com o BC, a valorização das reservas, entretanto, não tem impacto no chamado superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública), assim como não tem efeito no déficit nominal do setor público, mas incorporam o balanço do Banco Central. Os valores são exclusivamente utilizados para abater a dívida pública.

Swaps impactam indicadores fiscais
Por outro lado, os prejuízos da autoridade monetária com os contratos de "swaps cambiais" são incorporados às despesas com juros da dívida pública e ajudam a impulsionar o déficit nominal – que somou 9,3% do PIB em doze meses até novembro. Esse conceito é acompanhado pelas agências de classificação de risco.

Os contratos de "swap" também ajudam a impulsionar a dívida do setor público. No caso da dívida bruta, uma das principais formas de comparação internacional (que não considera os ativos dos países, como as reservas cambiais) – conceito também acompanhado pelas agências de classificação de risco – o endividamento brasileiro subiu em setembro. No fim de novembro, estava em 65,1% do PIB (R$ 3,84 trilhões).

Alguns bancos já projetam a dívida bruta em 70% do PIB no futuro. O próprio Banco Central admitiu na semana passada que, considerando as previsões de mercado para PIB, câmbio, juros básicos da economia e inflação em 2016, além de um déficit primário de 1% do PIB (estimado pelos analistas para 2016), a dívida bruta somaria 71,5% do PIB no fim deste ano.

Com a piora dos indicadores, entre eles aqueles relacionados com as contas públicas, o Brasil já perdeu o grau de investimento por duas das três maiores agências de classificação de risco no ano passado. No início de setembro, a Standard & Poors tirou o grau de investimento do país. Em dezembro, a Fitch anunciou o rebaixamento da nota brasileira para grau especulativo. Com isso, alguns fundos de pensão, por conta de suas regras, têm de retirar investimentos do país.

Recentemente, os Ministérios da Fazenda e do Planejamento avaliaram que a perda do grau de investimento pela segunda das três grandes agências de classificação de risco poderia ter "efeitos consideráveis" para a economia brasileira. "Caso o Governo perca o grau de investimento pela segunda das três grandes agências de classificação de risco, ele deixará de ser considerado pelos investidores, inclusive pelos grandes investidores institucionais, como uma alternativa de investimento com baixo risco de crédito", avaliam os ministérios.

Para que servem os contratos de swap?
Os swaps cambiais, cujo estoque está em mais de R$ 400 bilhões (patamar do fim de setembro), são contratos para troca de riscos. O Banco Central oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana.

No vencimento deles, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor dos contratos e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.

Segundo o BC, os contratos de "swap cambial", que voltaram a ser emitidos em junho de 2013, quando a moeda norte-americana se aproximava de R$ 2,40, visam dar proteção para os agentes ("hedge") que têm dívida em moeda estrangeira e fornecer liquidez para o mercado – evitando também uma volatilidade maior (forte sobe e desce) das cotações no mercado à vista.

Esse tipo de contrato também representa uma forma de proteção a empresas com dívidas altas em dólar. Se uma empresa fatura em reais, mas tem dívidas em dólares, pode ser interessante investir nestes contratos que a livram do risco de perder dinheiro com uma disparada da moeda norte-americana. Mas a estratégia tem um custo e envolve riscos. Se o dólar cair ou ficar estável, a empresa pode ter perdas e isso complica seu balanço.

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