sábado, 23 de janeiro de 2016

Brasileiro mergulha com 40 tubarões e escapa de ataque com arpão; vídeo.


Capitão da seleção brasileira de pesca submarina e instrutor de mergulho, Francisco Loffredi diz que encontros se tornarão mais frequentes e alerta para perigo no surfe

Há 30 anos, Francisco Loffredi desbrava os mares do Brasil e do mundo como se fosse um peixe. Conhece a vida marinha como poucos e se tornou um especialista em encontros com tubarões. Pescador profissional, instrutor de mergulho e capitão da seleção brasileira de pesca submarina, o carioca sabe como funciona a mente dos predadores que ocupam o topo da cadeia alimentar nos oceanos, e também como se defender de ataques ou da chamada "mordida exploratória". Foi o que aconteceu, segundo ele, com Mick Fanning. Para o pescador, o australiano não foiatacado em J-Bay, África do Sul. Foi um momento de curiosidade do animal, mas o surfista logo "foi liberado por falta de interesse". Em um vídeo impressionante, Loffredi aparece rodeado por 40 tubarões cabeças-chata, mais agressivos até do que os brancos ou os tigres. A missão era apenas pescar peixes da espécie bijupirás, mas ele acabou precisando colocar o seu conhecimento à prova ao escapar ileso de um possível ataque. 

Com a ajuda de um arbalete, uma espingarda de mergulho que lança um arpão, ele dá uma "cutucada" para afastar o animal e se livrar do perigo em Palm Beach, na costa leste da Flórida. Acompanhado de outros três mergulhadores, o americano Ryan Myers, o havaiano Justin Lee e a canadense Valentine Thomas. Enquanto um estava encarregado das filmagens, outros dois faziam a segurança de Loffredi. Campeão pan-americano e tricampeão da Copa do Mundo de pesca submarina, o brasileiro conta que só pôde realizar o vídeo graças ao apoio da equipe com anos de experiência e extremamente preparada, que seguiu à risca o protocolo de regras do mergulho com tubarões. Francisco frisou que nenhum animal se feriu na gravação.
Capitão da seleção brasileira, Francisco Loffedi mostra os enormes peixes após pesca submarina (Foto: Arquivo Pessoal)Capitão da seleção brasileira, Francisco Loffedi mostra os enormes peixes
 após pesca submarina.

- As imagens desse cardume são inéditas. Ninguém nunca filmou um cardume assim. No vídeo, eu fico parecendo um super herói, mas, na verdade, tinham outras três pessoas comigo. Fomos com um grupo experiente, mas eu ficava olhando sempre para trás, porque o cabeça-chata costuma vir por trás. O nosso objetivo não era arriscar vidas, e sim pescar e comer bijupirá, um peixe excelente para a culinária. No nordeste, a espécie é chamada de cação de escama, porque parece um tubarão. Fomos atrás dos bijupirás, que seguem os tubarões, como as arraias. Mas tinha uma quantidade acima do comum de tubarões. Eu e o Ryan ficamos pescando, e o Justin e a Valentine, na segurança. Teve um momento ali que eu ia tomar uma mordida. Uma mordida exploratória, que pode arrancar pedaço. Virei e me defendi - contou Francisco Loffredi. 

- Ficamos umas 2h na água e foi piorando cada vez, cada vez mais tubarões. Quando caímos, eles estavam no fundo, mas, na medida que fomos pescando, eles iam se excitando - completou o atleta, que resolveu mergulhar no local após disputar um campeonato na Flórida com o intuito de mostrar ao amigo Justin como era um bijupirá. 

Loffredi contou que os tubarões foram atraídos por um objeto brilhante preso a uma boia, a 10m de profundidade. Porém, a situação ficou quase insustentável à medida que os animais iam subindo das profundezas do oceano. Quando alcançaram a superfície, o grupo saiu do mar. Embora o número de ataques tenha crescido em todo o mundo, Francisco não vê razão para o medo. 

- Os tubarões são exterminados em todo o mundo. Os ataques estão aumentando, mas isso não tem a ver com desequilíbrio, pelo contrario, tem a ver com o bom trabalho de proteção. A população de tubarões vem aumentando nos países de primeiro mundo que tem controle sobre a pesca ilegal, que não é caso do Brasil. Como os tubarões são protegidos em países como os Estados Unidos, Austrália e África do Sul, o número está crescendo bastante. E como a população humana também aumenta, os encontros se tornam frequentes. Mas, em 99% dos casos, não acontece nada. A parte mais perigosa do mergulho é o trajeto de casa até a marina. No mar, você está a salvo. Faço pesca submarina há 30 anos e nunca fui mordido. Tem muito mais chances de ser mordido por um cachorro na rua ou cair um raio na sua cabeça - contou. 

- Tubarão é que nem cachorro. O cachorro morde, mas você não vai atravessar a rua porque tem um vira-lata pulguento ali. Só em uma situação muito extrema e improvável, você vai ser mordido. A maioria vai te ignorar ou sair de lá. Não precisa ter medo de tubarão. A maioria é mansa. A partir do momento que o tubarão branco identifica o ser humano como não comida, ele vira um gatinho, um tigre manso - acrescentou Loffredi.
Francisco Loffredi, Valentine Thomas, Ryan Myers e Justin Lee na Flórida (Foto: Arquivo Pessoal)
Francisco Loffredi, Valentine Thomas, Ryan Myers e Justin Lee na Flórida

Segundo ele, a maior incidência de ataques ocorre quando há uma combinação de quatro fatores: espécie agressiva de tubarão, água escura, pouca comida e muitas pessoas no mar. O carioca alerta que os encontros entre humanos e tubarões se tornarão cada vez mais frequentes, em especial, em lugares de maior preservação, como Estados Unidos, Austrália e África do Sul, justamente, palcos de etapas do Circuito Mundial de Surfe. Se a cena de Mick Fanning assustou, ele acredita que o episódio poderá se repetir em um futuro próximo. 

- Acredito que os encontros vão aumentar. Mais gente surfando, mais tubarão na água... A chance de um provável ataque aumenta. Mas na maior parte das vezes, são mordidas exploratórias. Mas a mordida de um tubarão branco, por exemplo, é menos letal do que a de um cabeça-chata. No caso do cabeça-chata, esse "confere" alimenta ele. O tubarão branco e o tubarão tigre dão uma mordida, veem que não é a comida deles e vão embora. Mas um surfista tem mais chances de ser confundido com comida do que um pescador submarino - destacou o capitão da seleção brasileira. 

Consultor de frutos do mar em restaurantes renomados do Rio de Janeiro, ele também usa as suas habilidades subaquáticas no cinema e em produções audiovisuais como dublê e produtor aquático. Participou de filmes brasileiros, de Hollywood e em incontáveis programas de televisão e publicidade. Formado em administração, com mestrado em jornalismo, ambos pela Universidade de Boston, Loffredi escolheu fazer do mundo submerso a sua vida. 

Ativista dos mares, ele foi um dos pioneiros da criação do parque das Ilhas Cagarras e liderou diversas iniciativas em prol da preservação do meio ambiente marinho. Atualmente, o carioca está treinando com outros atletas da seleção brasileira para o próximo Mundial da modalidade, na ilha de Syros, na Grécia, em setembro deste ano.

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