sábado, 30 de janeiro de 2016

Depois de 18 anos, direita volta ao poder na América Latina.

A crise econômica e política fez com que a direita começasse a voltar ao poder na América Latina em 2015, um fenômeno que não acontecia há 18 anos na região, desde que Hugo Chávez ganhou as eleições na Venezuela e abriu caminho para uma onda de vitórias da esquerda nos diferentes países sul-americanos. Um estudo publicado nesta quinta-feira (28) pelo Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc), da prestigiosa universidade francesa Sciences Po, em Paris, analisa o fenômeno e descreve que “o ano de 2015 pode marcar uma virada na história eleitoral do século 21” na região.

“Pela primeira vez desde o início dos anos 2000, observamos uma virada para a direita em diversos países da América Latina. 2015 pode marcar o encerramento de um ciclo de alternância de poder para a esquerda - que se abriu em 1998 com a eleição de Hugo Chávez na Venezuela e cuja última manifestação foi a eleição de Luis Guillermo Solís, na Costa Rica, em 2014 -, e abrir um novo ciclo de alternância para a direita, cujo símbolo seriaa eleição de Mauricio Macri na Argentina”, afirma o documento, uma compilação de artigos assinados por 14 especialistas, sob a coordenação de Olivier Dabène.

“Esse cenário iria no sentido dos estudos clássicos sobre os ciclos eleitorais e o voto econômico retrospectivo”, explicam os pesquisadores Dabène, Gaspard Estrada, Erica Guevara e Frédéric Louault, no capítulo sobre o assunto.
População atinge o limite sobre a corrupção

A razão para essa virada, de acordo com o estudo, seria o fim do ciclo de crescimento e bons resultados macroecônomicos nos países latino-americanos. Aos resultados negativos na economia, se somam escândalos políticos ou de corrupção e crises institucionais que só aumentaram a insatisfação dos eleitores com os governantes de esquerda, destaca o texto. Na Argentina, é citado o caso do assassinato do promotor Alberto Nisman, na Guatemala é lembrada a destituição do presidente por denúncias de corrupção e, na Guiana, a Assembleia Nacional foi dissolvida.

“Do Brasil à Guatemala ou ao Chile, a opinião pública, que durante muito tempo se colocava em uma posição de fatalismo, parece ter atingido o limite de tolerância em matéria de corrupção”, indica o relatório.

O estudo cita os balanços da organização Transparência Internacional sobre a corrupção nos últimos 11 anos, que constataram melhoras na Bolívia, no Uruguai, no Haiti, na Guatemala, na Argentina e no Paraguai. A América Latina continua, entretanto, em uma posição ruim na comparação com os restantes países do mundo, à exceção do Uruguai.

Análises eleitorais limitadas

O ano de 2015 teve um número reduzido de eleições nacionais: somente a Guiana, a Guatemala, o Haiti e a Argentina escolheram novos presidentes, e El Salvador, México e Venezuela tiveram eleições legislativas que resultaram na renovação do Parlamento. De todas as 12 eleições realizadas na América Latina, cinco resultaram em vitórias dos partidos de direita, e os de esquerda venceram em apenas duas.

Os casos mais emblemáticos foram a ascensão do conservador Mauricio Macri na Argentina – a primeira alternância política em 12 anos no país – e o sucesso da oposição de direita nas eleições legislativas na Venezuela, que encerrou uma série de 19 eleições vencidas pelos chavistas.

Os pesquisadores ressaltam, entretanto, que é preciso cautela antes de afirmar que há uma tendência de eleição da direita, porque 2015 foi um ano com poucas eleições. “Os índices ainda são muito limitados e ainda é cedo demais para concluir sobre a abertura de um novo ciclo de alternância na região”, diz o estudo.

O documento nota que a fragilização dos governos no poder, em especial os de esquerda, é menos nítida nas eleições menos importantes, como as locais. Com exceção da Venezuela, as votações regionais resultaram em poucas mudanças dos partidos que já estavam no poder. No âmbito local, outros fatores políticos e econômicos influenciam mais nas escolhas dos eleitores, como a popularidade dos prefeitos ou governadores, independentemente do partido.

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