terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Estudo questiona uso de maconha como causa de declínio de inteligência

Cientistas reavaliaram dados de pesquisas que acompanham 3.066 jovens. Uso da droga acompanha piora em teste de QI, mas pode não ser causa.
Maconha México (Foto: AP)
Jovem fuma maconha em manifestação no México.

Um estudo que reavaliou dados de dois dos maiores testes clínicos realizados até hoje sobre a influência da maconha na inteligência sugere que a droga pode não ser culpada pelos efeitos vistos anteriormente.

O trabalho, publicado nesta segunda (18) na revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA, investigou fatores que poderiam estar comprometendo o resultado de trabalhos anteriores, e achou vários.

Um dos estudos avaliados pelos cientistas, realizado pela USC (Universidade do Sul da Califórnia), em Los Angeles, acompanhou 2.277 jovens dos 9 até 20 anos de idade, e encontrou correlação entre o uso da droga e mau desempenho em testes de QI.

A ligação, porém, não permite afirmar que a primeira é causa da outra, mas sim que ambas estão ligadas a fatores de confusão, afirma Nicholas Jackson, da USC, que publica agora uma análise mais cuidadosa dos dados junto com oito colegas.

Segundo ele, o fator que mais joga desconfiança sobre os resultados preliminares do estudo, é que pares de gêmeos com hábitos diferentes no consumo da droga pareciam imunes às conclusões iniciais.

"Gêmeos usuários de maconha deixaram de demonstrar declínio de QI significativamente maior em relação a seus irmãos abstêmios", escreveram os autores do estudo. A inclusão de pares de gêmeos em testes clínicos é normalmente usada para levar em conta a influência de fatores genéticos, já que gêmeos idênticos possuem DNA virtualmente idêntico.

Dose
Além disso, nenhum dos estudos pareceu exibir um padrão de declínio cognitivo relacionado à dose da droga. Em outras palavras, esperava-se ver que usários de maconha mais frequentes exibissem uma queda de desempenho relativo maior que a dos menos frequentes, mas isso não ocorreu. Não havia relação de "dose-resposta", afirmam os Jackson e seus colegas.

E o último fator confundente, dizem os cientistas, é justamente o fator temporal. Esperava-se que os adolescentes usuários de maconha só apresentassem declínio cognitivo relativo depois de começarem a usar a droga, mas muitos deles já estavam abaixo da média antes de começarem a fumar a droga.

Analisando um outro estudo clínico de longo prazo feito no estado do Minesotta (EUA), acompanhando 789 adolescentes, Jackson encontrou o mesmo problema. Segundo o cientista, é provável que o problema esteja ligado a fatores socioambientais externos que fazem com que os mesmos voluntários desenvolvam menos habilidades cognitivas e ao mesmo tempo exibam tendência a se tornarem usuários de maconha.

Não é possível, porém, dizer se são condições econômicas ou problemas educacionais que causam isso -- em vez de um efeito neurotóxico da maconha -- porque as pesquisas não acompanharam esses dados.

Pouca evidência
"Encontramos pouca evidência para sugerir que o uso de maconha na adolescência tenha um efeito direto no declínio intelectual", escreveram os cientistas. Jackson e seus colegas, porém, reconhecem que o trabalho ainda não põe um ponto final na questão, que deve ser abordada por outras pesquisas.

"Pesquisas sobre esse tópico são escassas e com frequência exibem resultados conflitantes", disse. Segundo ele, como não é possível submeter adolescentes a experimentos clínicos com maconha, é preciso usar abordagens "quase experimentais", como a exibida por ele agora.

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