segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Beija-Flor e Mocidade são destaques do domingo na Sapucaí

A Beija-Flor foi o destaque desta noite de domingo, 7, no Sambódromo do Rio. A escola homenageou Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí (1793-1875), senador, conselheiro do Império e preceptor de D. Pedro II, e despontou como candidata ao título deste ano. A missão era contar quem foi o nobre, de origem mineira: seu nome é conhecido em todo o País por ter sido dado à pequena rua onde ocorrem os desfiles das escolas de samba, mas sua biografia é desconhecida.

A agremiação trouxe os ativos costumeiros: competência na execução dos carros alegóricos e fantasias e coesão da apresentação. Atual campeã, a escola de Nilópolis, apoiada no luxo e na eficiência de sua direção de harmonia, é a grande campeã da Sapucaí no século 21: também detém os títulos de 2011, 2008, 2007, 2005, 2004 e 2003. Mais uma vez, o público viu uma Beija-Flor impecável, dourada tal qual a riqueza das Minas Gerais dos séculos 18 e 19, e gritou: “Bicampeã!”

Assim como a Beija-Flor, todas as demais escolas haviam anunciado que este seria um ano de desfiles mais comedidos, de contenção de despesas, uma vez que não foram encontradas fontes de patrocínio dos enredos na iniciativa privada nem em prefeituras e governos estaduais mencionados direta ou indiretamente. A maior parte delas anunciou que faria seu carnaval com os R$ 6 milhões repassados pela Prefeitura (subvenção) e pela Liga das Escolas de Samba (receita da venda de ingressos, CDs e direitos de imagem), entre outras fontes. Mas não foi isso que se viu.

Na Grande Rio, que conta com o auxílio de seu presidente de honra, Jayder Soares, cuja família é associada ao jogo do bicho, não havia sinal de crise. Mesmo sem o patrocínio esperado da prefeitura de Santos, cidade homenageada, a escola de Duque de Caxias, na mesma Baixada Fluminense da Beija-Flor, fez um desfile luxuoso, com bonitos efeitos especiais. Já na comissão de frente, a opulência chamava a atenção. Os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri foram à Argentina buscar a tecnologia para uma imensa bola de futebol, que era inflada e encobria a Fonte de Itororó, atração turística da cidade.

No topo, o ator Mateus Renan encarnava Pelé, ora como jogador do Santos, ora como campeão do mundo, com o uniforme da Seleção. "É uma honra e uma responsabilidade fazer o papel do Pelé. Estamos ensaiamos há quatro meses, inclusive na Argentina", contou Renan. Pelé não foi, por razões de saúde. Neymar, também celebrado no enredo, tinha jogo ontem pelo Barcelona.

A Mocidade, que tem como patrono Rogério de Andrade, sobrinho do lendário bicheiro Castor de Andrade (1926-1997), também não parecia empobrecida. A escola se sobressaiu nesta primeira noite. Levou à Sapucaí os carros mais altos até aqui: os que representavam os personagens Dom Quixote e Sancho Pança no enredo que usava o clássico de Miguel de Cervantes como percurso para falar da história do Brasil. O primeiro tinha 18 metros de altura. O gigantismo quase atrapalhou a escola, que teve problemas na concentração e na dispersão na passagem das alegorias maiores, e precisou acelerar o passo ao fim para terminar o desfile no tempo máximo permitido, 82 minutos.

Dom Quixote entrou na avenida lutando contra moinhos de vento. Mas o inimigo imaginário não demorou a se transformar em problemas reais, o combate à corrupção e o escândalo da Petrobrás. A escola foi a única a fazer crítica política na Sapucaí. A encenação de Dom Quixote arrancou aplausos da plateia. O lunático mais famoso da literatura começou o desfile com suas batalhas imaginárias, mas isso só até o momento em que o moinho se transformou em torre de petróleo, de onde saíram cinco engravatados sem cabeça, ladeando uma figura feminina vestida de vermelho.Todos acabam colocados atrás das grades por Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança.

Saulo Finelon, um dos coreógrafos da comissão de frente, disse que a cor vermelha foi escolhida por acaso, assim como a figura feminina, rechaçando qualquer semelhança com a presidente Dilma Rousseff. “Tem o contraste, o preto é escuro, vermelho é sangue. Tem muito sangue na nossa política”, completou Jorge Texeira, outro responsável pela coreografia.

As referências à corrupção permearam o desfile da escola de Padre Miguel, que mostrou todos os símbolos clássicos, de dólares em malas a ratos. A imensa alegoria animada de Quixote dominou a avenida desde a entrada e foi a primeira a dar indícios de que a agremiação poderia ter dificuldades na dispersão. Mas os carros seguintes, do petróleo e dos ratos, foram os mais problemáticos, provocando buracos.

Quarta colocada no desfile de 2015, a Unidos da Tijuca foi a sexta e última escola a desfilar na primeira noite de exibições no sambódromo do Rio, na madrugada desta segunda-feira (8). A escola apresentou um enredo sobre o agricultura brasileira. A cidade matogrossense de Sorriso, considerada capital nacional do agronegócio, era citada no enredo.

As alas representavam elementos como fauna, flora, plantações, espantalhos, produtos e máquinas agrícolas. Com fantasias e alegorias de fácil compreensão e com bom acabamento, a escola fez uma apresentação correta e deve voltar no desfile das campeãs, que reunirá no próximo sábado (13) as seis melhores escolas das duas noites.

Embora a exibição tenha transcorrido dentro do prazo, ao final o presidente Fernando Horta deu uma bronca nos responsáveis pela harmonia, reclamando de uma pequena correria nos minutos finais. Assustados com a reclamação, integrantes da escola interromperam a comemoração que haviam iniciado em função do bom resultado. O problema do qual Horta reclamou, no entanto, não deve prejudicar decisivamente a escola.

Primeiras a desfilar, a Estácio de Sá e a União da Ilha fizeram desfiles medianos, sendo o da Ilha bastante superior ao da Estácio, que subiu este ano da Série A, segunda divisão do carnaval carioca.

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