quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Como ganhar fluência em idiomas sem frustrações

SÃO PAULO - Escolher um curso de idiomas, definitivamente, não é uma tarefa simples. Paciência e pesquisas são palavras de ordem para acertar uma conta que nem sempre fecha. A equação envolve tempo, dinheiro e as necessidades do aluno. Com tantas opções no mercado, pode parecer impossível identificar qual o melhor método para dominar e ficar fluente em uma nova língua.

Entre cursos presenciais de longa duração, intensivos de férias e intercâmbio, há ofertas para todos os gostos e bolsos. E é justamente tanta variedade que acaba confundindo na hora da escolha. Por isso, além de pesquisar muito sobre programas e métodos, uma dose de autoconhecimento é essencial para quem decidir aprender um idioma.

Básico. Mais comum entre adolescentes e criança os cursos tradicionais, com duas aulas por semana, são indicados para quem tem tempo disponível e não tem pressa para aprender. Com duração de cerca de quatro anos, eles também podem custar um pouco menos do que os cursos intensivos e um intercâmbio.

A estudante Kareli Oliveira Andrade, de 16 anos, aproveitou as tardes livres para fazer um curso de japonês na Kumon, rede especializada no aprendizado autodidata e individualizado. O interesse pela cultura japonesa e o sonho de estudar no país motivam Kareli, que consegue conciliar o ensino médio com o aprendizado de um novo idioma graças ao espaçamento entre uma aula e outra. “Se eu estiver com muita coisa da escola para fazer a minha orientadora diminui minhas tarefas do curso.”

O tempo costuma ser o inimigo de quem quer aprender um idioma. Não é difícil encontrar quem deseja adquirir fluência em poucos meses. A gerente de ensino da Wise Up, Márcia Frantz, está acostumada com estudantes que procuram a escola correndo contra o relógio. “Não existe milagre nem pílula do conhecimento. Tem de haver dedicação e comprometimento do aluno, não adianta querer para ontem.”

O método de ensino da instituição, que investe primeiro na conversação e depois insere a gramática na rotina do aluno, prevê que o estudante seja capaz de compreender o idioma escrito e falado em 18 meses. Após esse período, o aluno pode participar das aulas de conversação, pelo tempo que quiser. “A pessoa vai errar, vai falar besteiras, mas a gente aprende errando.”

O gerente comercial Vinícius Queiroz Bezerra, de 27 anos, precisou correr contra o tempo. Bezerra já tinha feito um intercâmbio de um mês nos Estados Unidos, em 2011. A falta de prática fez o gerente esquecer parte do que havia aprendido. No ano passado, uma viagem para Las Vegas acendeu o alerta de que ele precisava reciclar o que sabia.

Bezerra escolheu um curso de conversação diária na Academia Washington, com 40 horas de duração, que pode ser feito em até quatro meses. “Montamos uma agenda, e eu fiz tudo em 40 dias. Relembrei o que já sabia e aprendi coisas novas. As aulas diárias me obrigavam a estudar sempre.”

Métodos. Aprender um idioma de forma convencional, em sala de aula, nem sempre é uma opção. A estudante de Engenharia Elétrica Juliana Gaioso, de 24 anos, já havia feito aulas de inglês e alemão em escolas tradicionais de Goiânia, onde vive, mas percebeu que precisava de mais. “No caso do inglês eu ia fazer exame de proficiência, então tinha o prazo do exame para aprender bastante. Em uma turma nem todos tem o mesmo ritmo, por isso escolhi fazer aulas particulares.”

Juliana acabou fazendo a mesma opção para aprender alemão. Apesar do custo mais alto, a estudante não se arrepende do investimento. “A aula acaba sendo mais produtiva, mas acho que só vale a pena se a pessoa já tem o básico do idioma. Acredito que a vivência com outros alunos também é importante.”

O professor de Língua Inglesa da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Unesp de Bauru, Marcelo Concário, concorda com Juliana. Para ele, aulas presenciais estimulam o aluno de diversas maneiras. “O estudante que aprende em grupo possui mais parâmetros de comparação e tem o professor como mediador, uma figura de referência por ter o domínio do idioma. Além disso, há as discussões em sala de aula, os alunos contribuem com temas, é um ambiente mais diversificado e, por isso, uma experiência mais rica.”

Escolhas. As exigências da profissão também influenciaram a maneira de o piloto de avião Rogério Marques, de 36 anos, aprender inglês. Passando boa parte do tempo longe de São Paulo, onde mora, a alternativa encontrada foram as aulas da escola English Talk, que oferece horários flexíveis, atendimento individual e apoio de sistema multimídia.

Neste curso, o aluno aprende online. A escola não possui salas de aula, mas um espaço social para estimular a interação dos alunos. “Já tinha feito inglês em outras escolas e cursos mais técnicos da área de aviação nos Estados Unidos. Pela minha falta de tempo, o método tradicional não é o ideal.”

Os estudantes da rede CNA experimentaram um novo jeito de aprender : em contato virtual com idosos que vivem nos Estados Unidos. O diretor de Educação da escola, Marcelo Barros, diz que o projeto foi idealizado em parceria com uma agência de publicidade. “O aluno tem de estar em contato com o idioma, então juntamos quem fala inglês mas não tem companhia e quem quer aprender essa língua.”

Imersão. Aprender outra língua é uma experiência bastante particular. Muitas pessoas preferem o intercâmbio, apostando no mergulho profundo para adquirir fluência. No caso da relações públicas Laura Rissardi, de 23 anos, a ideia veio de repente e, em 15 dias, ela resolveu todas as burocracias para seguir para a Inglaterra. “Meus tios moram em Wokingham. Cheguei sem saber o que ia fazer e sem falar nada de inglês. No dia seguinte passei em uma escola e fiz a matrícula.”

A experiência foi positiva. “Fui aprendendo na marra. A coisa mais difícil foi fazer amizade.” Para evoluir, a estudante passava o dia todo na escola. “Fazia isso para aprender mais rápido. Não me considero fluente porque acho que fluência vai muito além de falar e entender bem, mas aprendi e hoje uso o inglês no meu trabalho.”

O intercâmbio também foi a escolha da Relações Públicas Izabela Fini, de 22 anos, que foi para Vancouver, no Canadá, pela agência CI Intercâmbio. A jovem passou um semestre estudando em uma escola voltada para alunos estrangeiros, com aulas diárias em período integral. “Meu objetivo era poder conversar com qualquer pessoa e por isso foquei na conversação.”

Apesar de ter feito aulas de inglês desde a infância, Izabela acredita que a fluência melhora com intercâmbio. “Percebi que era de nível avançado apenas no papel.”

Exigências. Uma das maiores preocupações de quem procura um curso de idiomas é conseguir melhores oportunidades de trabalho. Para a professora da Business School São Paulo Laura Castelhano, a experiência do intercâmbio é insubstituível. “Atuando com carreiras eu posso dizer que a vivência adquirida no exterior é algo que nenhum curso consegue oferecer aqui no Brasil.”

Laura reforça a diferença entre a parte técnica, que todos os cursos podem oferecer, e o contexto de uma experiência internacional. “As multinacionais, em especial, se preocupam com profissionais capazes de se adequar a ambientes diferentes. Quem viveu fora do país, além de aprender outra língua, também precisou lidar com modos de vida e trabalho diferentes, até mesmo aqueles que não foram trabalhar.” Mas ressalta que isso não basta. “Não podemos generalizar. Algumas pessoas não têm a oportunidade de estudar fora, mas têm outros aspectos importantes que contam na hora de uma seleção.”

 
Marcia Fasano faz dois cursos online

Depoimento de Marcia Fasano, produtora de eventos

‘Estudo nos horários que eu quiser’

“Estou fazendo dois cursos online de italiano ao mesmo tempo. Um deles é da Universidade de São Paulo (USP). Acho muito bom porque sempre há palestras com alguém da embaixada (italiana) e professores de universidades de lá. É prático, também - as aulas são no meu notebook.

Além desse curso, eu uso o Livemocha, uma plataforma grátis onde é possível aprender qualquer idioma. O mais legal é que você não precisa gastar dinheiro e tem a ajuda de nativos. As pessoas vão se conhecendo e falam por Skype para melhorar a conversação. Isso ajuda a evoluir.

Não faço um curso pago porque, apesar de precisar do italiano para trabalho, realizo casamentos na Itália, o custo é alto. Além disso, já havia começado um curso bem básico em uma escola que não gostei. Com esses cursos mais informais recebo até elogios pela fluência. Mantenho uma rotina de estudos de uma hora por dia. Quando eu terminar estes cursos, pretendo aprender chinês do mesmo jeito.”

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