sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Corretora revela preconceito e sexismo em Wall Street: 'beberam o leite materno que guardei na geladeira'

Maureen Sherry escreveu livro com casos sobre sua passagem pelo banco de investimento Bear Stearns, um dos maiores do país antes de quebrar na crise de 2008.
Maureen Sherry (Foto: Divulgação)MAUREEN SHERRY

Uma ex-corretora de valores de Wall Street decidiu revelar histórias escabrosas do tempo em que atuava em um dos maiores bancos dos Estados Unidos. Maureen Sherry, de 51 anos, chamou atenção ao contar como seus colegas homens a atormentavam com "mugidos", logo após dar a luz, e como chegaram ao cúmulo de beber o leite materno em que havia guardado na geladeira do escritório. As revelações estão no livro que acaba de lançar, "Opening Belle" (sem tradução no Brasil). A obra de ficção é baseada em sua experiência dentro do banco de investimentos Bear Stearns, onde trabalhou por 11 anos como diretora-administrativa, entre os anos 1990 e 2000.

Segundo o Daily Mail, Maureen Sherry afirma que o sexismo era algo intríseco ao ambiente altamente competitivo do banco e que, em muitas das entrevistas que realizou, as mulheres são questionadas se são casadas ou se pretendem se casar, antes de receberem uma oferta de emprego. Algumas deveriam prometer de que não teriam filhos, caso quisessem determinado emprego no banco. 

Mãe de quatro filhos e com especializações na Universidade Cornell e na Wharton School Business, Maureen disse que, em seu primeiro dia em Wall Street, ela abriu uma caixa de pizza e encontrou camisinhas ao invés de rodelas de peperoni. Segundo ela, os homens contratavam mulheres apenas baseados na maneira com que se vestiam e relata uma entrevista em que um gerente, do sexo masculino, chegou a desenhar seios no CV de uma candidata, durante a entrevista de emprego, para se lembrar dessa característica mais tarde. No livro, Maureen afirma ter visto humilhações ao "melhor estilo Games of Thrones", diz referindo-se à série da HBO. 

Em uma passagem do livro, Maureen conta que caminhava em direção à enfermaria com uma bomba para tirar leite na mão e um colega de trabalho passou a seu lado mugindo. O mugido voltou a se repetir em outras ocasiões, sempre durante o período em que ainda estava amamentado seu bebê. "Eu preferi ignorar quando alguém colocou calcinhas rasgadas na minha tela de computador, quando eu voltei da minha lua de mel", afirmou. 

Maureen Sherry afirma que perdeu as contas de quantas vezes uma mulher deu uma ideia em uma reunião - para, no final, um homem levar o crédito. Um colega disse a ela que a empresa gostava de contratar mulheres que tivessem apenas irmãos homens - pois assim elas já "estariam acostumadas com brincadeiras de homens". Ela disse que, quando entrou em Wall Street imaginava que a competição seria feroz. Entrou com a ideia de que sua carreira iria crescer rápido, que você teria que matar um leão por dia - mas, na prática, a realidade foi bem diferente disso. Ela disse que nunca trouxe esse machismo à tona, durante o tempo em que estava trabalhando no banco. 

Em artigo para o "New York Times", Maureen disse que percebeu que não queria ficar em Wall Street quando sua filha lhe deu uma perspectiva diferente "sobre o valor do dinheiro". Ela pediu demissão, foi estudar em Columbia - onde se especializou em literatura de não-ficção. Hoje, ela escreve artigos e livros e vive em Nova York. Seu marido, Steven Klinsky, ainda permaneceu no mercado financeiro: trabalha em uma empresa de private equity em Manhattan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui