quinta-feira, 24 de março de 2016

Ex-líder sérvio, Karadzic é condenado por genocídio e crimes contra a Humanidade.

Duas décadas após massacre de Srebrenica, ex-político foi sentenciado a 40 anos de prisão.
Radovan Karadzic senta em tribunal para ouvir veredito do TPII
Mais de 20 anos após o massacre de Srebrenica e o atroz cerco de Sarajevo, os juízes do Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) condenaram o ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic a 40 anos de prisão. Ele foi considerado culpado de genocídio e de crimes contra a Humanidade em cidades bósnias — incluindo perseguição, terror e assassinatos sistemáticos de alta organização nos anos 1990. Agora, o antigo político deverá apelar da sentença, segundo seu advogado.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a condenação marca um dia histórico para os povos da região e para a justiça internacional.

— Esta sentença envia uma forte mensagem a todos aqueles que têm responsabilidade, e indica que eles terão que prestar contas por suas ações — disse Ban, citado por um porta-voz.

Karadzic foi responsabilizado pelo cerco de Sarajevo, que durou 44 dias e matou 10 mil pessoas, e pelo massacre de Srebenica, que matou quase oito mil homens e crianças muçulmanas pelas forças sérvias da Bósnia em julho de 1995. Este é considerado o pior episódio do gênero cometido na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

Envolvido em um longo julgamento histórico, o homem de 70 anos compareceu ao tribunal nesta quinta-feira para ouvir seu veredito acerca de 11 acusações por genocídio, crimes contra a Humanidade e crimes de guerra durante o confronto bélico da Bósnia — que deixou mais de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados entre 1992 e 1995.

Muitas vítimas — incluindo ex-prisioneiros e mães de Srebrenica — viajaram para assistir ao julgamento, assim como diplomatas e juristas do mundo inteiro. A polícia, mobilizada em grande número, foi orientada a se manter "extremamente vigilante".

Radovan Karadzic é acusado de ter organizado, ao lado do general Ratko Mladic e do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, uma limpeza étnica de grandes territórios da Bósnia depois do desmantelamento da Iugoslávia, em 1991. De acordo com a acusação, o objetivo era expulsar dos territórios os muçulmanos, croatas e outros habitantes que não eram sérvios.

Esta é a autoridade de mais alto cargo a enfrentar julgamento perante o tribunal pela guerra na Bósnia — na qual 100 mil pessoas foram mortas há duas décadas, à medida que exércitos rivais esculpiram a Bósnia por linhas étnicas.

'UM POUCO DE SERENIDADE'

Alguns manifestantes se reuniram em frente ao tribunal para exigir que Radovan Karadzic fosse punido pelas acusações de genocídio. A acusação havia solicitado a pena de prisão perpétua.

— Os muçulmanos da Bósnia poderão, enfim, obter um pouco de serenidade — afirmou Hamdija Karahasanovic, de 67 anos, no protesto.

Na sua defesa, Radovan Karadzic argumenta que não estava ciente dos assassinatos de Srebrenica, mas assume a responsabilidade de todos os crimes cometidos por cidadãos e forças da Republika Srpska (República Sérvia da Bósnia).

Para o promotor Serge Brammertz, o julgamento contra Karadzic é um dos mais importantes da história do TPII tanto pelo número de vítimas quanto pela responsabilidade de políticos no sofrimento de seu povo.

— A Justiça é lenta mas está chegando. Então esperamos que este tribunal tenha coragem para dizer o que realmente aconteceu, porque isso é tudo de que eles precisam. Os fatos eles já têm — disse Sakib Ahmetovic, sobrevivente muçulmano da guerra.

Após se tornar o fugitivo mais procurado da Europa, Karadzic escapou da justiça internacional por quase 13 anos. Ele foi detido em julho de 2008 em um ônibus de Belgrado enquanto se fazia passar por um terapeuta de medicina alternativa.

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