sábado, 9 de abril de 2016

Laboratório privado cria exame único para as três infecções do Aedes no DF

Laboratório de pesquisa em biologia molecular do Sabin, em Brasília (Foto: Sabin/Divulgação)Laboratório de pesquisa em biologia molecular do Sabin, em Brasília

Teste acha dengue, zika e chikungunya em fase aguda na mesma amostra. Fiocruz esbarra na burocracia para lançar similar; editais seguem travados.

Pesquisadores do Distrito Federal ligados a um laboratório privado desenvolveram o primeiro teste do país capaz de identificar, em uma unica testagem, a presença dos vírus da dengue, da zika e da febre chikungunya no corpo humano. O teste detecta traços do material genético dos micro-organismos no sangue e serve para a fase aguda da doença, quando o paciente apresenta sintomas.


"A gente procura áreas específicas do material genético que identificam cada espécie. O zika, por exemplo, tem uma parte de RNA exclusiva, diferente de todos os seres vivos. Com essa reação, quando o exame dá positivo para um determinado conjunto de reagentes, a gente sabe qual vírus está no corpo", diz o diretor técnico do Laboratório Sabin, Rafael Jácomo.

A testagem tripla está disponível na rede de laboratórios e custa R$ 337. Segundo a empresa, o valor já era aplicado em uma versão mais antiga do teste, que identificava apenas dengue e chikungunya. A pesquisa foi dividida em duas fases e durou cerca de seis meses.

O exame usa a técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR, na sigla em inglês), similar à empregada em testes de HIV, HPV e hepatite B. "Como as doenças do Aedes são muito parecidas para o médico na análise clínica, a diferença desse exame é que ele 'corre' de uma vez só. Se tiver vírus circulando, a gente identifica", diz Jácomo.

O resultado é liberado no dia seguinte à coleta do sangue. Segundo o pesquisador, a detecção do vírus da zika é um pouco mais complicada que a dos outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, porque a concentração dele no sangue da pessoa infectada costuma ser mais baixa.

PercalçosO teste desenvolvido no Brasil funciona apenas durante a fase de "viremia", quando os vírus estão ativos e causando sintomas. Para o exame sorológico, que mede os anticorpos gerados pelo corpo e ainda presentes após a cura, o laboratório usa testes importados, que só identificam uma doença por teste.

Rafael Jácomo afirma que a maior dificuldade encontrada pelo grupo de pesquisadores foi na obtenção de amostras. A decodificação do material genético estava disponível em bases de dados públicas, mas as amostras de sangue infectado para os estudos em laboratório tiveram que ser coletadas dos próprios pacientes da rede.

"No início, a gente pegava amostras 'do zero' em pacientes suspeitos e mandava testar fora do Brasil, para saber se tínhamos um sangue com zika para trabalhar. Isso afeta o tempo de desenvolvimento, principalmente. A gente via os casos aumentando e ficava na dependência. Na época, ainda eram poucas notificações, agora é que surgem mais casos suspeitos", afirma.

Em março, o Sabin realizou entre 130 e 150 testes por semana. Agora, o laboratório tenta avançar com a tecnologia para reduzir a interferência humana nas etapas manuais do exame. "Não faz muita diferença para o paciente, é uma questão de procedimento interno. Temos os reagentes, os primers para uso próprio, tudo certo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui