quarta-feira, 4 de maio de 2016

Prefeitura abriu Ciclovia Tim Maia sem ver cálculo da obra

Trecho de 50 metros da Ciclovia Tim Maia que desabou durante o feriado de quinta-feira, matando pelo menos duas pessoas: construída como se fosse passarela
Documento que pertence a consórcio ajudaria a Geo-Rio a identificar erros em projeto. A Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, foi inaugurada em janeiro sem que a prefeitura tivesse um documento considerado fundamental para a checagem de sua segurança. Fontes ligadas à investigação do desabamento que, no último dia 21, provocou a morte de duas pessoas, informaram ao GLOBO que o consórcio Contemat-Concrejato fez a obra sem entregar à Fundação Geo-Rio a chamada memória de cálculo, na qual estão todas as contas que embasaram o projeto executivo da estrutura, elaborado pelo grupo de empresas. Segundo especialistas, é praxe as empresas responsáveis por uma construção, a pedido do contratante (no caso, o município), apresentarem o documento. Técnicos da Geo-Rio alegam terem pedido várias vezes a memória de cálculo ao consórcio.

A memória de cálculo é considerada muito importante porque permite detectar problemas no planejamento de uma obra. De acordo com a Norma 7.187 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): “O memorial de cálculo deve ser iniciado com uma indicação clara do modelo estrutural adotado, com as dimensões principais, características dos materiais, condições de apoio, hipóteses de cálculo e outras informações que sejam necessárias para defini-lo”.

MATERIAL É INDISPENSÁVEL

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Reynaldo Barros, diz que o documento é indispensável para qualquer projeto. Uma memória de cálculo, por exemplo, fez parte do projeto básico da ciclovia elaborado pela Geo-Rio.

— Você precisa ter todos os cálculos necessários para definir como o projeto executivo será realizado. O normal é a memória ser fornecida de imediato. O contratado deve ter essas informações. Se não tem, é um erro — disse Barros.

Professor da Uerj, o engenheiro elétrico Alexandre Rojas destacou que a ausência do documento é mais um sinal de que a obra da ciclovia apresentava lacunas:

— Se a prefeitura não exigiu, foi uma falha da contratante. A licitação não prevê essa obrigatoriedade (da entrega da memória de cálculo), mas a documentação pertence ao dono da obra.

Em nota, a Secretaria municipal de Obras afirmou que “os cálculos são feitos durante o projeto executivo, que ficou a cargo do consórcio” e que “tais documentos já foram disponibilizados, a pedido da Geo-Rio, pelo consórcio a todos os órgãos que investigam o incidente”. Já o grupo Contemat-Concrejato disse que só vai se pronunciar após o fim das investigações.

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