sexta-feira, 3 de junho de 2016

Ana Hickmann revisita atentado em depoimento exclusivo: "Só quero chorar de alegria daqui pra frente"

Em conversa emotiva com a Vogue, a apresentadora revisita, doze dias depois, as mémorias do ataque sofrido em Belo Horizonte e mostra otimismo com o futuro ao focar no lançamento de marca própria de moda. na Hickmann estava com a agenda fechada no sábado, 21.05, para sua passagem por Belo Horizonte: uma parada rápida Hotel Caeser Business para preparativos pós-viagem e presença no showroom que apresentava a primeira coleção da etiqueta própria. Os planos sofreram reviravolta dramática assim que o cunhado da apresentadora, Gustavo Correa, foi surpreendido por Rodrigo Augusto de Pádua e os momentos de pânico envolvendo a apresentadora, Gustavo e sua esposa Giovana Oliveira, assessora de imprensa, tiveram início. Por quase meia hora, o trio ficou refém do fã no quarto, alvos de ameaças violentas à apresentadora. Depois de balear Giovana com dois disparos, Rodrigo foi rendido por Gustavo e morto após embate corporal. Em depoimento exclusivo à Vogue marcado por pausas emocionadas, Ana revisita as memórias do atentado doze dias depois do episódio traumático e foca no retorno à rotina de trabalho, animada com o lançamento de sua primeira coleção autoral de moda, "My Secret Garden". Leia na sequência.

"A verdade é que quatro, cinco dias atrás eu não conseguiria falar direito porque tudo estava confuso na minha cabeça. Neste último fim de semana, antes que eu retomasse de fato ao trabalho na terça-feira (31.05), pensei: “Chega. O que tinha que ter sofrido já passou. Estamos vivos, minha cunhada está voltando para casa, chegou a hora de virar essa página”. Agora, eu consigo falar a respeito do incidente sem chorar.

Seriam apenas algumas horas em Belo Horizonte. Na sexta-feira anterior, me despedi no ar avisando aos telespectadores: “Minas Gerais, me espera que estou chegando!”. As pessoas sabiam que eu ia para lá, tivemos divulgação. Rodrigo me acompanhava pelas redes sociais, mas até hoje não sabemos como tinha os detalhes de minha estadia. Quando ele chegou atrás de meu cunhado ao quarto do hotel, achei que era um assalto. Estava até tranquila; infelizmente isso faz parte de nossa realidade.Tudo mudou quando me dei conta de que estava com uma pessoa olhando diretamente nos meus olhos. com uma arma apontada em minha direção, dizendo “eu vim acertar as contas com você; se você não é minha, não será de mais ninguém”. Ele falava o tempo todo que eu sabia quem ele era, o que só aumentava o meu desespero. Nenhuma lembrança dele vinha à mente. Ficamos muito tempo ali dentro do quarto, por cerca de 25 minutos, tentando conversar. Conforme o tempo passava, me dava conta de que aquilo era real. Havia alguém na minha frente com aquele propósito, só porque não o correspondi da forma que ele havia idealizado. “Pronto, deste quarto eu não saio. Este é o meu último dia”, pensei.

Durante a ação, lembro muito do Júlio [Figueiredo, cabeleireiro] batendo na porta, tocando a campainha. Ele estava no lugar certo na hora certa. Tudo foi muito sequencial: quando o rapaz entrou em nosso quarto, Júlio estava logo atrás. Durante o embate entre Rodrigo e Gustavo, Giovana e eu conseguimos fugir daquele ambiente. Ao olhar para ela, não vi seus ferimentos. Achei que estávamos bem e comecei a gritar enquanto corria pelo corredor, pedindo ajuda. Alguém iria me ouvir. Quando estava já em outro andar é que olhei para trás e vi que ela não estava comigo. Fiquei apavorada. Nesse momento, um funcionário me puxou para dentro de um dos quartos para me ajudar. Júlio teve a coragem de voltar ao nosso andar e puxar Giovana para o elevador. Foi ele quem pediu ajuda, ninguém nos acudiu, ninguém fez nada na hora, ninguém chamou a polícia. Só quando Júlio voltou do hospital depois de ter levado minha cunhada é que ele viu um policial militar e fez questão de avisar que tinha visto tudo. Ele foi extremamente injustiçado nas notícias sobre o caso; sua ajuda foi fundamental para salvar a vida da Giovana. Serei eternamente grata por isso.

Assim que essa cena horrorosa acabou, [Ana começa a chorar] quando vi que todo mundo estava vivo, é que tive dimensão do horror do acontecido. Eu pensava: "se eu não tivesse aqui hoje, onde eu estaria? Dentro de um caixão sendo velada, com o meu cunhado no caixão de um lado e minha cunhada no outro". Ele queria destruir a minha família. Esses pensamentos são muito difíceis de entender. Ali, tive a certeza absoluta de que, pelo pequeno desvio de percurso de uma bala, a minha vida foi decidida.

Os momentos seguintes foram uma confusão. Era um entra e sai, o pessoal do hotel tentando explicar que Rodrigo não estava hospedado antes de confirmarem sua entrada no dia anterior… escutava muitas vozes, todas aquelas informações ao meu redor, isso virava uma bola de neve dentro de mim. Não sabia se entrava em pânico, se sentava e chorava. Não conseguia beber água, comer, era uma sensação muito esquisita, virei um caramujo. Minha mão não parava de tremer, só parou quando Alexander [Correa, marido da apresentadora] chegou e me deu um abraço. Minha maior preocupação era com Giovana, estava aflita por notícias. Cheguei a pegar o telefone, ligar para o hospital e falar a uma atendente: “moça, quem está falando é a Ana Hickmann, eu sou apresentadora da Record, estou aqui no hotel e quero saber da minha cunhada”, sem sucesso.

Nesta semana, com a notícia do caso horrível do estupro coletivo [da jovem do Rio de Janeiro], me coloquei muito no lugar da vítima no sentido de ter que contar todas as coisas que aconteceram uma, duas, quinze, vinte vezes para pessoas diferentes. Querendo ou não, tínhamos que lidar com investigador, polícia civil, polícia militar. Ficávamos todos separados e eles perguntavam tudo, de várias maneiras distintas. Você é obrigado a reviver tudo aquilo, toda aquela ansiedade.

Quando retornei a São Paulo no domingo, vivi o dia mais confuso. Não tinha ainda notícias da Giovana e do Gustavo, estava com muito medo de como seria a reação das pessoas, minha cabeça estava a mil. Por mais que soubesse que fui a vítima, comecei a me perguntar o que aconteceria em seguida. Aproveitar este momento mais introspectivo que vivi nos últimos dias e ter a família por perto me ajudou muito. Um acontecimento como esse nos uniu, e não só o meu lado da família, mas também a do meu marido, a da Giovana e do Gustavo. Isso nos deu estabilidade emocional, força para viver. Tivemos uma segunda chance danada. Eu só quero chorar de alegria daqui pra frente.

Eu nunca tive medo dos fãs, do público, por mais que meu marido tentasse me alertar. “Você precisa acreditar no mal das pessoas”, dizia sempre. Na manhã de domingo, ele passava por algumas imagens das notícias e de Rodrigo e só então me recordei: “esse eu bloqueei há pouco tempo por causa de menções muito pesadas”. Mas quantos eu não bloqueio por dia, quanta gente fala coisas horrorosas nas redes sociais? Me avisam muito: “você tem que dar print, você tem que denunciar”. Não denunciei, né. Minha preguiça de ir até o site da delegacia virtual e fazer uma ocorrência agora acabou. As redes sociais precisam ter filtros contra palavras e mensagens que colocam as pessoas em risco de violência deste tipo, violência sexual, pornografia infantil… é preciso proteger os usuários de forma responsável. Quem sabe essa experiência não se torna positiva a favor desse mecanismo.

Sobre o Rodrigo, eu não consigo ter raiva desse rapaz. Ele não era uma pessoa certa, não tinha mais noção de nada sobre aquilo que estava acontecendo. Ele realmente precisava de muita, muita ajuda, uma ajuda que ele não teve.

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