sexta-feira, 3 de junho de 2016

Cerveró recebeu dicas do filho ator antes de prestar depoimento em CPI


Ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró
Delação de ex-diretor da Petrobras revela discussão com família sobre volta ao Brasil.

Além de propinas e negociatas, os depoimentos e documentos que compõem a delação premiada do ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró revelam também um pouco da intimidade dele e da família. Vão desde as habilidades profissionais do filho, o ator Bernardo Cerveró, que o ajudou a se preparar para um depoimento da CPI da Petrobras em 2014, até a forma como foi convencido a firmar o acordo de delação premiada. Passam também pelas discussões da família, em janeiro de 2015, sobre a conveniência de continuar na Inglaterra, onde passava férias, ou voltar ao Brasil, onde seria preso.

O decreto de prisão de Cerveró é de 1º de janeiro de 2015, quando ele estava na Inglaterra. O ex-diretor da Petrobras voltou ao Brasil e, ao desembarcar, em 14 de janeiro, no Rio de Janeiro, foi preso. Em depoimento prestado em 19 de novembro de 2015, que foi juntado à delação de seu pai, Bernardo contou que a família discutiu se ele deveria voltar ao país, mas o próprio Nestor Cerveró decidiu retornar "porque era sua vontade".

Segundo Bernardo, o advogado de Cerveró na época, Edson Ribeiro, também o aconselhou a voltar. Ao ser preso, Bernardo disse que a família ficou atordoada, mas Ribeiro deu esperanças de que ele seria liberado logo por meio de um habeas corpus, o que acabou não ocorrendo. Dez meses depois, em novembro do ano passado, o advogado viria a ser preso também. Ele foi flagrado em gravação feita pelo próprio Bernardo participando de um esquema para tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras. Os planos foram frustrados, e Cerveró acabou decidindo colaborar com a Justiça.

As gravações feitas por Bernardo foram destacadas pelo pai dele em depoimento dado em 3 de dezembro do ano passado ao juiz Márcio Schiefler Fontes, auxiliar do ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O fato de ser ator ajudou.

"Meu filho é cara de pau! O fato de ser ator. .. Ele tem essa facilidade de ... a frieza de representar que lá ali preocupado, e não perder, e ficar uma hora e meia conversando, né? Porque eles ficaram uma hora e meia conversando, sem... deixando, e envolvendo, e escutando as conversas", disse Cerveró, segundo transcrito pela Seção de Transcrição e Revisão de Julgamento do STF.

Ele ainda disse: "meu filho conseguiu, dentro de uma frieza que eu, pô, eu não teria essa frieza".

O próprio Bernardo destaca sua habilidade de ator. Seu pai ganhou notoriedade em 2014, após a presidente afastada Dilma Rousseff culpá-lo pelo negócio que resultou na aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Posteriormente, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que isso gerou um prejuízo de US$ 792,3 milhões à Petrobras. A partir de então, Nestor Cerveró apareceu algumas vezes no Congresso para prestar depoimento.

No depoimento que prestou 19 de novembro de 2015, Bernardo contou que, no ano anterior, com o "estouro" da questão de Pasadena, o pai foi demitido da BR Distribuidora, onde ocupada uma diretoria, e "ficou muito abalado emocionalmente". Assim, ele passou a ter mais tempo com o pai e "começou a prepará-lo para o depoimento na CPI".

Bernardo disse que "é ator profissional desde os 17 anos e conhece bem o psiquismo de seu pai, o que o habilitava a essa preparação" e que "Nestor Cerveró iria fazer apresentação de power point, e o depoente (Bernardo) queria ensiná-lo a mostrar segurança do que ia dizer". Afirmou ainda que "se criou uma equipe, que se reunia no escritório do advogado Edson Ribeiro", que o acompanharia na CPI.

Bernardo afirmou também que passou a cogitar a delação premiada depois que viu que não conseguiria libertar o pai por meio de um habeas corpus. Ele contou que "formou convicção de que aquele processo não seria capaz de ajudá-lo a tirar seu pai da cadeia" e que diante disso "começou a contemplar a ideia de convencer seu pai a fazer acordo de colaboração premiada". Segundo Bernardo, "quando a ideia surgiu, o depoente ainda estava parcialmente esperançoso em que 'saísse o habeas corpus', de modo que, quando conversava com seu pai no parlatório, seu discurso era o de que 'se em duas semanas o habeas corpus não sair, a gente faz'".

O depoimento de Bernardo Cerveró terminou com um pedido de desculpas "em nome de seu pai aos cidadãos brasileiros" e dizendo que Nestor Cerveró "também quer a melhoria do país e, embora falível, como humano que é, quer ajudar enfrentar as mazelas nacionais".

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