terça-feira, 21 de junho de 2016

POLÍTICA: De volta a 1998

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Reportagens de 1998 sobre o noticiário político podem não ser muito úteis para a defesa de Aécio Neves contra as acusações que Sérgio Machado fez a ele na delação premiada.

Machado afirmou que houve um esquema de financiamento de candidatos tucanos naquele ano para o PSDB eleger uma bancada gorda e engrossar as chances de Aécio concorrer à presidência da Câmara em 2001.

O principal argumento usado por Aécio para rebater o delator foi afirmar:

— Qualquer pessoa que acompanha a cena política brasileira sabe que, em 1998, sequer se cogitava a minha candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, o que só ocorreu muito depois.

Reportagens de 1998 do GLOBO, no entanto, mostram que Aécio se colocava já naquele ano como candidato à presidência da Câmara — com o apoio de Sérgio Machado inclusive —, o que chegou a ameaçar o pacto entre PFL e PMDB para a reeleição de Michel Temer, na presidência da Câmara, e de Antonio Carlos Magalhães, na presidência do Senado. Os dois acabariam reeleitos, com o apoio do PSDB.

Em 15 de outubro, disse Aécio ao GLOBO, insurgindo-se contra o acordo de Temer e ACM:

— O PSDB tem o dever de participar dessa discussão. Queremos um projeto para a Câmara. Somos o segundo maior partido da Casa e não há o menor sentido em aceitar um acordo feito antes desta eleição. Além disso, não vejo essa vinculação entre a presidência da Câmara e do Senado.

Poucos dias antes, no dia 9, Aécio recomendava "humildade" a Jáder Barbalho, então presidente do PMDB, que defendia a reeleição de Temer:

— O presidente de um partido que chega com uma bancada federal tão distante de suas projeções iniciais e tão abaixo da bancada do PSDB tem que ter um pouco mais de humildade para discutir o assunto. Não há hipótese de um acordo que exclua o PSDB.

Na mesma reportagem, logo depois, o próprio Sérgio Machado, então líder do PSDB no Senado, defende o plano:

— O jogo mudou. Mudou a correlação de forças. Temos o direito de exigir a presidência da Câmara.

Até Michel Temer, em entrevista a Jorge Bastos Moreno, publicada em 18 de outubro, comentou o assunto. Perguntou Moreno:

— Então o senhor acha precipitada a manifestação do líder Aécio Neves pleiteando para ele e para o PSDB a presidência da Câmara?

Respondeu Temer:

— Cada um tem seu estilo. Para o meu gosto, entendo que este não é o momento de se tratar desse assunto.

Ouvido pela coluna, Aécio afirma, novamente, que Sérgio Machado mente e que "isso ficará provado". Diz Aécio:

— Especulações sobre candidaturas são absolutamente normais e fazem parte da política, são lícitas e não se confundem com as acusações feitas por ele. O senhor Sérgio Machado nunca exerceu, nos governos do PSDB, qualquer cargo que lhe permitisse oferecer qualquer tipo de vantagem a quem quer que fosse. Minha eleição para a presidência da Câmara em 2001 se deu graças a uma grande articulação política, conhecida por todos, que uniu PSDB e PMDB.

Evidentemente, nada disso prova a afirmação de Machado, de que arrecadou ilicitamente recursos para eleger 50 deputados tucanos.

Machado tem agora que dar os nomes aos bois, ou mais precisamente o nome dos 50 deputados. Em sua delação, não deu um nome sequer.

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