terça-feira, 7 de junho de 2016

Serra diz que candidatura à Presidência é ‘remotíssima’


O ministro José Serra (PSDB-SP)
Em entrevista, chanceler afirma que ideia de Dilma voltar ‘seria um pesadelo completo’

O ministro das Relações Exteriores José Serra disse, nesta segunda-feira, que as chances de ser candidato à presidência em 2018 são remotíssimas. Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da “TV Cultura”, o chanceler afirmou que está preocupado em fazer seu trabalho dar certo. Questionado sobre a possibilidade da presidente afastada Dilma Rousseff voltar ao poder, Serra afirma que esse cenário “seria um pesadelo completo”.

— A única coisa que estou preocupado agora é me sair bem como ministro das Relações Exteriores e ajudar o Brasil a se sair bem. Essa é uma tarefa patriótica. O Brasil ficou numa situação muito precária no ponto de vista econômico e social. Ele precisa ser refeito. Minha concentração de preocupações está nisso. Em 2018, (a candidatura) é remotíssima. A pré-condição de se pensar em 2018 é o governo ir bem — opina.

Serra discordou ao ser apontado como um beneficiário direto de um possível sucesso do presidente interino Michel Temer, e defendeu o senador e presidente do PSDB Aécio Neves ao ser lembrado que o mineiro poderia chegar com a imagem arranhada em 2018 por acusações de corrupção:

— Não acho que Aécio esteja fora do páreo em absoluto, porque acredito que não vão comprovar coisas que se têm dito. Não há provas. Mas isso é para ver mais adiante. Não consigo funcionar desse jeito.

Jornalistas presentes no debate perguntaram a opinião de Serra sobre o envolvimento de ministros do governo Temer em esquemas de corrupção. Para ele, um processo de justiça acelerado como a Lava-Jato provoca um julgamento "antes de saber se aquilo que está sendo acusado tem fundamento". Ele falou do ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que atuou para obter recursos desviados da Petrobras em troca de favores à empreiteira OAS:

— Não dá para julgar. Cadê a acusação, uma coisa concreta? O que ele tem a dizer? É uma coisa complexa fechar um julgamento a partir de uma denúncia que está nos jornais.

Serra também comentou as críticas contra a escalação de ministros homens. Em sua opinião, a falta de mulheres não foi uma coisa deliberada de Temer:

— Não vejo a mais remota ideia de discriminar a participação de mulheres. Uma área tão ou mais importante que ministério é o BNDES, onde foi posta a Maria Silvia (Maria Silvia Bastos Marques). Se não me falha a memória é a primeira mulher a presidir o BNDES, que é uma entidade de peso como o Banco Central.

Para o chanceler, o Brasil é "medalha de ouro em combate à corrupção".

— Estão investigando livremente. O Brasil está dando exemplo de que é capaz de morder a própria carne, olhar dentro e apontar problemas, fazer punições. Está se sabendo coisas porque está se investigando.

‘PESADELO COMPLETO’

Serra voltou a falar sobre as manifestações de entidades internacionais, contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Para ele, a estratégia de defender a imagem do país no exterior "é dizer a verdade".

— Tenho dois golpes nas minhas costas. Sei o que é golpe. O poder Judiciário está supervisionando tudo. A justiça está atuando livremente. Os votos para admissão do impeachment foram dados por 2/3 da Câmara. Está tudo correndo dentro das regras do jogo — afirma.

Questionado se Temer deveria seguir o exemplo do presidente argentino Maurício Macri, que apresentou um informe minucioso sobre a herança recebida dos governos kirchneristas, o chanceler afirmou que está sendo feito levantamento de cada área do governo.

— Macri ganhou a eleição, e Temer foi de uma hora para outra. É muito importante que a gente mostre a situação de cada área. O PIB caiu 10% no acumulado, o desemprego é o mais alto da história, de 12%. A inflação disparou, há corte nas áreas sociais, a Saúde tem sofrido, Estados e municípios estão no sufoco total. Tem ainda o desperdício. Esse levantamento está sendo feito de cada área.

Caso Temer não se sustente no poder, Serra não acredita que Brasil irá se igualar à Argentina de 2001, quando viveu período de grande instabilidade política, com sucessão de vários presidentes.

— No caso da Argentina, com De la Rúa, chegou-se no limite da hiperinflação. Eles tinham um regime de dolarização da economia. Isso arruinou a economia argentina. O terceiro que veio (Eduardo Duhalde) conseguiu botar ordem. Depois os Kirchner, infelizmente, jogaram pela janela. Não vejo esse cenário no Brasil.

Sobre a possibilidade da presidente afastada voltar ao poder, Serra aponta que não seria a melhor solução.

— Seria um pesadelo completo. Ruim com ele, pior sem ele. Mesmo quem ache Temer ruim, seria pior voltar atrás. O melhor é fazer que o governo se saia minimamente bem.

POLÍTICA EXTERNA

Serra fez duras críticas à politica externa feita pelo ex-presidente Lula e por Dilma e disse que o Partido dos Trabalhadores se aliou a forças bolivarianas para se dizer de esquerda.

— Foi uma espécie de populismo em escala mundial. Ficou abrindo embaixada e consulado em todo o canto por um voto a mais para o Brasil entrar no Conselho de Segurança, que é o órgão mais importante da ONU — acusou.

Serra ponderou, no entanto, que não sairá fechando embaixadas:

— Mandei fazer um levantamento para estudar o assunto. Temos mais embaixada no Caribe de língua inglesa do que a Inglaterra.

O chanceler defendeu ainda que o Brasil seja uma zona de livre comércio, que é quando o país não cobra imposto sobre a mercadoria do outro:

— Vamos estimular parcerias mundo afora de comércio. A África está disparando. Temos que estreitar relações com aquele país.

Serra fez questão de pontuar que não está na política externa com olhos de economista e que é, acima de tudo, um militante político. Ele elogiou a atuação da China e disse que o Brasil deveria seguir seu exemplo.

— Eles sabem o que querem. Temos que saber o que nós queremos em matéria de negociação. Nove entre dez economistas falam que Brasil é protecionista. Somos fichinha perto do resto do mundo. Vai vender cana para os EUA! Não tem concessão unilateral. Chega! É troca-troca, princípio da reciprocidade. Por exemplo. O Brasil comprou ou compra caça sueco. Qual foi a cláusula que defendemos no comércio para a Suécia se abrir mais? Nenhuma! Compra e não exige nada como contrapartida. Isso tem que mudar — pontuou.

Após divulgar nota dizendo que o Brasil está pronto para ajudar a Venezuela a sair da grave crise política e econômica pela qual o país vem passando, Serra disse que aquela nação não vive uma democracia.

— Diria que não do jeito que está. É muito precário o sistema vigente na Venezuela — opinou.

DONALD TRUMP

Questionado sobre as mudanças na relação com os Estados Unidos e um possível governo do republicano Donald Trump, Serra mostra torcida para que o magnata não vença as eleições. Ele disse que vai procurar aprofundar a relação econômica com os americanos.

— É infantil achar que isso significa tornar dependente. O mundo mudou, não tem a polarização que havia. Não podemos nos mover por complexo de inferioridade. O problema que o Brasil tem se deve a nós mesmos. O governo anterior ficou deitado em berço esplêndido no plano comercial. Vamos fazer esforços. Isso dá trabalho e eles optaram pelo menos trabalhoso, sem se empenhar para ter parceiros comerciais mundo afora.

CPMF

Questionado se teria mesmo sido sondado para o Ministério da Fazenda, Serra afirmou que nunca teve a ambição de ocupar o cargo e negou o convite, mas se mostrou disponível para ajudar a equipe econômica do presidente interino Michel Temer.

— Estou torcendo para que a área econômica do governo vá bem. Não estou metendo o bico, porque estou com excesso de coisa já na área internacional. Mas estou disponível a qualquer momento para ajudar.

O chanceler também foi questionado sobre a volta da CPMF, e Serra frisou ser contra o imposto.

— Ninguém pode ser a favor. Duvido que Michel Temer ame a CPMF. Tem que ter aumento de algum tipo de imposto ou tributo, mas isso o pessoal que está pilotando vai ter que avaliar. Quando vai mexer no tributo, tem que pensar se vai mexer na inflação, se vai prejudicar atividade econômica e por aí vai.

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