quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

André Esteves, do BTG Pactual, arquiteta seu retorno ao mercado.

Para tentar provar que Lava-Jato errou, ex-banqueiro estuda processo com advogados.
André Esteves, fundador do BTG Pactual.

RIO - Desde que deixou a prisão no último dia 18 de dezembro, André Esteves, ex-dono do banco BTG Pactual, prepara sua volta ao mercado. Em recolhimento domiciliar, o outrora controlador de uma das instituições financeiras mais badaladas do país, dedica praticamente todo o seu tempo a estudar o processo que o levou durante 24 dias em Bangu 8, penitenciária do Rio de Janeiro. A alguns poucos amigos e familiares que o visitam em sua casa no Jardim América, bairro nobre da zona oeste de São Paulo, ele tem demonstrado que sua nova rotina está centrada na elaboração de sua defesa. Quer provar que houve erro na Operação Lava-Jato. Há quem compare sua dedicação à determinação que o levou a construir seu império no mundo das finanças.

O banqueiro foi preso por supostamente tentar atrapalhar as investigações da Polícia Federal. A alegação foi de que Esteves, ao ter acesso à delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, sugeriu ao então líder do Partido dos Trabalhadores (PT) no Senado, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), pagar uma mesada de R$ 50 mil à família de Cerveró para ser retirado do depoimento do ex-diretor à Justiça. A suposta proposta veio à tona após o filho do ex-executivo, Bernardo Cerveró, ter gravado e entregue ao Ministério Público a conversa com Delcídio e o advogado de seu pai, Edson Ribeiro.

A ideia de Esteves é entregar a sua defesa assim que o recesso do Judiciário acabar, em fevereiro. Seu objetivo é fazer com que a Segunda Turma do Superior Tribunal Federal (STF) não aceite a denúncia oferecida pelo Ministério Público, que culminou em sua prisão. Com isso, Esteves deixaria de ser réu no processo da Operação Lava-Jato. Enquanto o mês de janeiro não acaba, Esteves vem optando pela reclusão total na capital paulista.

— Ele só fala com alguns poucos amigos e os familiares. Vem fazendo basicamente duas coisas: ou estuda o processo ou fica com a família — a mulher Lílian e os três filhos adolescentes. Ele não faz jantares nem almoços, pois não gosta desse tipo de coisa. Então, está completamente recluso. Mas, apesar dessa situação toda, ele é muito forte. Todo esse trabalho em sua defesa o está deixando motivado. Ele começou de baixo. Sabe vencer na vida — disse uma pessoa próxima a Esteves que não quis se identificar.

SEM CONTATO COM BTG

Enquanto a defesa não é apresentada, Esteves não pode sair de casa, sem autorização do juiz. Ele está no chamado “recolhimento domiciliar" — que é diferente da prisão domiciliar —permite sair para trabalhar, por exemplo, desde que tenha autorização judicial. Ele também não está usando tornozeleira eletrônica, destacou uma das pessoas ouvidas pelo GLOBO. No dia a dia, Esteves também tem se dedicado aos esportes. Pratica corrida na esteira, embora não seja um “fitness man", conforme destacou uma pessoa próxima.

Com os amigos do BTG Pactual, Esteves também não tem mantido contato. Mas não que ele não queira. É que ao revogar sua prisão, o ministro Teori Zavascki proibiu Esteves de participar de qualquer atividade ligada ao BTG Pactual ou às empresas envolvidas na Lava-Jato. Também não tem conversado com os amigos do Rio — em especial os do edifício Cap Ferrat, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, um dos mais caros do Rio.

— Então, como Esteves está muito focado e determinado na elaboração de sua defesa, ele não tem falado com os amigos do banco. Há quem tenha sugerido para o próprio André ficar apenas curtindo a família, já que a antiga rotina de trabalho consumia quase todo o seu tempo. André esteve com o Delcídio umas cinco vezes no ano passado, como esteve com outros senadores. Apesar de a Polícia Federal ter pego uns 100 mil documentos em sua casa, não acharam nada em relação à delação de Cerveró — destacou uma outra fonte.

ESTEVES TEM 28% DAS AÇÕES DO BTG

Mas Esteves não está só. Como bom estrategista, ele reforçou sua equipe jurídica. Além do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ele conta ainda com o jurista Sepúlveda Pertence, ex-presidente do STF, e com Sonia Ráo, da Ráo & Pires Advogados.

— Ele fala sempre com sua equipe de advogados. São conversas quase que diárias. Até brincam para ele aproveitar essas férias forçadas — disse uma das fontes. — Os vizinhos também não o veem. Ele mal aparece nas janelas. E olha que mora em uma rua discreta, sem saída. Sua mulher (Lílian) também tem optado pela discrição.

Mas é difícil desvencilhar a imagem de Esteves do BTG. Primeiro porque, apesar de ter renunciado ao comando e à gestão da instituição, ele ainda tem 28% das ações do banco, segundo uma fonte na instituição financeira. Um empresário, que tem negócios com o BTG, ressalta que a relação hoje com o ex-banqueiro é “inexistente”.

— Simplesmente não tem contato. Fizemos um negócio em conjunto em que ele participou ativamente. Depois de todo o ocorrido, tentei falar com ele, mas não obtive sucesso. E, agora, sinceramente, nem sei se é o melhor momento. Então, a relação é essa: inexistente — contou.

Mas André já tem planos para a sua volta. Fontes destacam que, apesar de no momento ele “não estar pensando em trabalhar", Esteves quer esperar a decisão da Justiça.

— Dependendo da decisão da Justiça, Esteves vai voltar ao mercado. Mas acho improvável voltar ao BTG. É algo complicado, mas ainda é cedo para pensar nisso — disse uma outra fonte.

Enquanto isso, o banco vem vendendo a participação que tem em alguns negócios para reforçar seu caixa, após os saques de clientes. A instituição já se desfez da Rede D'Or, de hospitais, a Recovery, da área de cobrança, e ainda analisa se desfazer de outros bens, como o banco suíço BSI. Ontem, o BTG informou que está em discussões com o grupo francês CNP Assurances para vender sua fatia no Pan Seguros por R$ 1,6 bilhão. Desde o dia de sua prisão, no dia 25 de novembro, até ontem, as ações do BTG na Bolsa de Valores de São Paulo já caíram 51%. Procurado, André Esteves não quis falar.

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