terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Bebê de 7 meses sobrevive por 4 dias com avó morta dentro de casa no DF.

Bombeiros encontraram restos de fraldas e até fezes na boca da menina. Chaveiro abriu casa; 'ele disse: mataram as duas', diz mãe, que vivia em GO.

Uma menina de 7 meses sobreviveu após ficar quatro dias trancada dentro de uma casa ao lado do corpo da avó, no Itapoã, no Distrito Federal. Segundo o Corpo de Bombeiros, a criança foi encontrada desidratada e chegou a comer os próprios dejetos, como pedaços de fralda descartável e as fezes.

Nikolly Maria Landim ficava com a avó enquanto a mãe, a doméstica Débora Landim Santana, de 19 anos, morava no Jardim Ingá, em Luziânia, onde trabalha. A menina foi encontrada em 22 de dezembro, quatro dias depois da avó, Luzineide Paes Landim, de 46 anos, ter morrido.

Débora diz que tentou ligar para a mãe durante quatro dias, mas ninguém atendeu. “Procurei minha tia, parentes em Goiás, mas ninguém sabia dela. Assim, decidi antecipar a visita de Natal.”

Quando chegou na casa do Itapoã, a mãe da menina encontrou todas as portas trancadas. Preocupada e sem conseguir entrar, ela chamou um chaveiro. “Ele entrou na casa e falou: ‘Mataram as duas’”, diz a mãe.

“Foi quando a Débora me ligou e todos da minha casa saíram correndo até lá. Entramos, mas a neném não tinha se mexido. Pouco tempo depois, os bombeiros chegaram. Pelo cheiro, falaram que quem cuidaria do caso seria a Polícia Civil. Entraram de novo e a bebê levantou a cabecinha para um deles”, afirmou a tia de Nikolly, a socorrista Magda Landim de Farias.

“Acreditamos que tinha pelo menos quatro dias que o corpo estava ali. A filha mesmo relatou que a última conversa com a mãe foi em uma quinta-feira [dia 17, cinco dias antes de encontrarem a bebê com vida]. E ela foi encontrada na terça. O aspecto do corpo também indicava isso”, afirma o sargento Nelson Antônio Carmo Araújo, do 10º Grupamento de Bombeiros Militar do Paranoá, responsável por retirar a menina da casa. Segundo ele, o odor no local era forte, devido ao estado do corpo de Luzineide.

“Eu avistei o corpo em estado de decomposição. Em seguida, vi a bebê. Mexi nela, ela parecia estar morta, mas olhou na minha direção. Nesse momento, saí de dentro da casa com elas nos braços”, afirma Araújo.
A bebê Nikolly Landim em dois momentos: no hospital, logo após ser encontrada pelos bombeiros (esquerda); e duas semanas depois (direita) (Foto: Magda Lamdim de Farias/Arquivo Pessoal)A bebê Nikolly Landim, em dois momentos: no hospital, logo após ser encontrada pelos bombeiros (esquerda); e duas semanas depois (direita).


“Chegando na ambulância, percebemos que ela estava com alguma coisa na boca. Foi quando retiramos pedaços de fralda. Ela chegou a querer comer a gaze que usamos”, afirma.

A menina foi encaminhada ao Hospital Regional do Paranoá (HRP), onde ficou internada por um dia. Ela chegou ao centro médico pesando 6,4 kg. Na última consulta, em 3 de setembro, ela pesava 6,575.


Do hospital do Paranoá, Nikolly foi para a casa de Magda, onde se recupera e passa bem. No último dia 1º, ela completou 8 meses de vida. Não há informações sobre o peso da criança, mas a família acredita que ela esteja com pelo menos 200 gramas a mais.

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde para saber em que estado a menina chegou ao centro médico, mas a pasta disse que não poderia passar informações sobre a paciente.

Segundo a pediatra da UTI Neonatal do Hospital Santa Lúcia, Andréa Duarte Jácomo, crianças são capazes de sobreviverem, em média, de 48 horas a 72 horas sem líquido.

“Temos relatos de crianças que sobreviveram a desastres, como deslizamentos, por até três dias. Mas isso depende muito da fonte de líquido. Porque sem isso, há a desidratação, o rim para de funcionar”, diz. “Algum meio ela deve ter encontrado para não ter morrido, pois não há explicação.”

O caso foi registrado na 6ª DP, no Paranoá, no mesmo dia em que a menina foi encontrada. A morte de Luzineide é investigada pela Polícia Civil.

Inicialmente, o caso é tratado como morte natural. No atestado de óbito, consta que a morte é por "causa indeterminada". Segundo Débora, ela havia passado por um transplante de rins há cinco anos.

Doações
Móveis da casa, roupas e brinquedos da criança foram incinerados devido ao odor. Segundo Magda, tudo o que a bebê tinha se perdeu. Por isso, familiares que trabalham em um salão de beleza decidiram pedir auxílio às clientes.

“Recebemos várias coisas. Leite em pó, fraldas, peças de roupa”, diz a mãe de Nikolly. Ela teve de deixar o trabalho e passou a morar na casa de uma tia-avó, também no Itapoã.

“Achei que ela estava morta. Ao saber que não, fiquei aliviada e feliz. Depois de tudo, ver que as pessoas estão dispostas a ajudar minha filha, é ainda mais reconfortante”, diz Débora.

A menina Nikolly Landim no colo da mãe, Débora Landim Santana (Foto: Magda Lamdim de Farias/Arquivo Pessoal)A bebê Nikolly Landim com a mãe, Débora Landim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui