terça-feira, 19 de janeiro de 2016

De vento em popa: parques eólicos brasileiros se beneficiam da maior aquisição da GE

A vasta região dos Pampas, na América do Sul, se estende por três países e cobre uma área maior que a França. Agricultores da Argentina, do Uruguai e do Brasil há muito descobriram os atrativos dessas terras baixas, planas e férteis. Agora, operadoras de parques eólicos, especialmente no Brasil – a maior economia do continente –, estão dando um novo olhar sobre essa região. 

Embora o primeiro parque eólico do Brasil tenha sido aberto em 1992, esse tipo de energia não conseguiu atingir todo o seu potencial e fornece menos de 5% da eletricidade do país. Isso porque as planícies acometidas por ventos normalmente ficam distantes de centros urbanos e não têm a fiação e a infraestrutura para que a energia elétrica gerada pelos parques eólicos seja levada até os consumidores. 
Na busca por diversificar a matriz elétrica do país, o governo brasileiro estabeleceu a meta de que a energia eólica atinja cerca de 12% da capacidade nacional de geração até 2023.Tentando cumprir essa meta, o país impôs que os novos projetos construam suas próprias linhas de transmissão.

É uma tarefa difícil, mas o desafio ficou mais fácil no final de 2015, quando a GE adquiriu a unidade de energia e grid (rede) da Alstom. As duas empresas já estão entre as maiores fabricantes de turbinas eólicas do mundo. Com a Alstom sob o mesmo teto, a GE agora também tem a tecnologia que pode conectá-las rapidamente à rede.
O momento não poderia ser melhor. O Brasil produz mais de dois terços de sua energia em hidrelétricas de grande escala, tais como a imensa Usina de Itaipu, no Rio Paraná (que tem um recorde mundial em geração hidrelétrica). Mas o quinto país mais populoso do mundo está passando por sua pior estiagem em quatro décadas, o que está encarecendo a eletricidade e aumentando a frequência de apagões.

Virna Araripe é executiva da Casa dos Ventos, que possui o maior portfólio de projetos eólicos do Brasil. No passado, sua empresa comprou uma variedade de aerogeradores da GE, além de turbinas, subestações e linhas elétricas da Alstom. Segundo ela, o novo conjunto de turbinas e tecnologias de grid da GE são “um pacote interessantíssimo”. 

A energia eólica também acaba complementando a hidrelétrica, de acordo com Araripe. Isso acontece porque, no Brasil, a energia eólica costuma ser totalmente remetida à rede, permitindo que as usinas hidrelétricas armazenem água nas barragens para usá-la depois. Outra aplicação hidráulica, chamada usina hidrelétrica reversível, utiliza bombas elétricas para transferir água a reservatórios a fim de armazená-la quando a energia é suficiente – por exemplo, à noite. O reservatório libera essa água para gerar energia quando necessário, durante os horários de pico ou quando não há disponibilidade de energia eólica e solar. Em ambos os casos, pode-se considerar – literal e figurativamente – que a energia eólica e a hidrelétrica se “equilibram”. 

Além disso, projetos de energia eólica são relativamente rápidos se comparados a outras formas de geração elétrica. Um parque eólico brasileiro novo normalmente consegue começar a fornecer energia renovável dentro de dois anos. 

A GE e a Alstom fazem negócios no Brasil há décadas. Em setembro de 2015, havia mil aerogeradores da GE instalados no Brasil. O equipamento de alta tensão da Alstom opera na maior linha de transmissão do mundo, conhecida como Linhão do Madeira. A linha tem 2.580 quilômetros de extensão, indo de Rondônia até o estado de São Paulo. Com as tecnologias de grid da Alstom ajudando os novos parques a cumprira exigência de fazerem sua própria transmissão de energia, a presença delas deve aumentar rapidamente. 

Araripe acredita que a energia eólica poderá suprir até 20% da demanda elétrica do Brasil. A Casa dos Ventos está intensificando suas atividades em ritmo acelerado, com planos de ter 1.140 megawatts (MW) de capacidade instalada em linha até o final de 2017. Em cinco anos, pretende ter energia instalada de 3.000 MW. Araripe afirma que um maior volume de energia eólica pode reduzir os custos da eletricidade para as produtoras, que podem “repassar um tanto dessa economia para o cliente”. 

São bons ventos, que podem beneficiar a todos.

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