O cardiologista Bijoy Khandheria cura corações doentes há mais de três décadas, ouvindo suas batidas abafadas e assistindo a suas formas granuladas surgirem e desaparecerem, como se fossem seres das profundezas do mar. “Tradicionalmente, o ultrassom nos permite ver o coração, mas não com tantos detalhes quanto gostaríamos”, afirma. “Usávamos o sinal para ter uma imagem do coração camada a camada, quase como um açougueiro usando uma faca, e, então, juntar mentalmente as camadas para ver o quadro completo”, continua.
Mas o doutor Khandheria e seus colegas do Aurora St. Luke’s Medical Center de Milwaukee, no estado americano de Wisconsin, começaram recentemente a usar um novíssimo software de ultrassom que, pela primeira vez, permite que vejam o coração em “4D extremo” – as três dimensões espaciais mais a dimensão temporal. “As imagens são extraordinárias”, afirma Khandheria. “É como abrir o peito e ver o coração batendo”.
Khandheria afirma que o software, desenvolvido pela GE Healthcare para ser usado em suas máquinas de ultrassom cardiovascular mais novas, fornece imagens tão claras, que lhe permite observar como o sangue corre em torno de coágulos nas artérias. “Posso usar isso para medir a gravidade do vazamento de sangue ao redor das válvulas e avaliar o dano”, diz. “É quase como se eu tirasse a válvula e começasse a virá-la com minhas mãos. São informações inestimáveis para os cirurgiões quando estão se preparando para uma operação”.
Uma máquina de ultrassom envia feixes de ondas sonoras de alta frequência – seu tom é muito alto para o ouvido humano – para dentro do corpo e usa o eco delas para detectar o formato de órgãos internos. A tecnologia é parecida com a do sonar usado em submarinos.
Antes, o ultrassom do coração dependia da “filtragem espacial” (beamforming) no hardware. Mas esse método é lento se comparado à agilidade da filtragem espacial do software, além de ser restrito ao volume limitado de dados com que originalmente foi criado para lidar ao criar uma imagem do corpo. Como resultado, muitas vezes produz imagens menos detalhadas e requer longos processos de redesenho do hardware.
O novo software, chamado cSound, consegue coletar um volume praticamente infinito de dados para criar uma imagem do corpo humano. Em vez de se livrar dos dados que não consegue processar, que é o que o hardware faz, o software os armazena na memória da máquina. A equipe de engenharia da GE desenvolveu algoritmos que processam e analisam todos os dados armazenados na memória e selecionam os melhores sinais, pixel por pixel.
O software cSound é tão poderoso, que consegue processar um volume de dados equivalente à reprodução de um DVD inteiro em apenas um segundo, em tempo real. Seu funcionamento interno foi baseado em uma combinação do processamento de dados por supercomputadores com os transmissores e receptores usados nas comunicações de radar, sismologia e WiFi (diferentemente da tomografia computadorizada e dos raios X, o ultrassom usa ondas sonoras ao invés de radiação ionizante).
A equipe começou a desenvolver o cSound examinando outro sistema de ultrassom 4D da GE, usado para fazer imagens do feto durante a gravidez. “É um algoritmo similar, mas há algumas diferentes importantes”, afirma Eirk Steen, engenheiro de software da GE que ajudou a desenvolver a tecnologia. “Quando você está fazendo imagens em 4D do feto, quer ver a superfície da pele bem lisa. Mas os cardiologistas querem ver diferenças no tecido do coração. Por isso, criamos para eles mapas de cor que conseguem fazer isso”.
O software é especialmente útil para examinar pacientes com doenças pulmonares, que sejam obesos ou que estejam em estado grave, nos quais atualmente é difícil obter imagens. Segundo estudos clínicos, o exame cardiovascular mais comumente pedido – o ecocardiograma transtorácico – é inconclusivo em 10% a 15% das vezes, resultando em exames adicionais que podem quase triplicar o custo inicial, e com um incômodo maior para o paciente.
A conta pode ser ainda maior: 5,1 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca nos Estados Unidos, o que significa um custo estimado em US$ 32 bilhões por ano ao sistema de saúde do país.
Mas Khandheria está vendo resultados. Ele afirma que a precisão do diagnóstico melhorou graças ao software e que a tecnologia beneficiou 98% de seus pacientes. “É uma grande inovação na imagem por ultrassom”, conclui.
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