domingo, 7 de fevereiro de 2016

Carnaval de rua tira dinheiro de escolas de samba

Tradicionais anunciantes reduziram ou até cortaram ações de marketing no sambódromo.
Desfile da escola Pérola Negra no Sambódromo do Anhembi.
As escolas de samba do Rio e de São Paulo tiveram desafios adicionais este ano para desfilar com glamour na avenida. Além de acertar os passos e entrosar a bateria, os carnavalescos tiveram de organizar o desfile com orçamentos reduzidos. Tradicionais anunciantes, como Petrobras, Caixa, Coca-Cola e Brasil Kirin reduziram ou até cortaram ações de marketing no sambódromo e patrocínios às escolas. Em alguns casos, a culpa é da crise. Em outros, as escolas perderam recursos para o ascendente carnaval de rua brasileiro.

Só a Petrobras, que nos últimos cinco anos destinou cerca de R$ 12 milhões às escolas do Rio, cortou a verba em 80% este ano. E os R$ 2,4 milhões que a estatal concedeu às escolas saiu às vésperas do carnaval. No caso da Petrobras, a culpa é da crise. "Essa decisão faz parte de um esforço de redução dos valores dedicados à atividade de patrocínio, em função da atual situação da companhia", diz a Petrobras, em comunicado.

A Coca-Cola, que anunciou no sambódromo nos últimos 20 anos, deixou de ter um camarote na Sapucaí em 2015 e cortou também os anúncios no sambódromo neste ano. "Não há corte na verba de marketing da companhia (em 2016). Trata-se de uma decisão estratégica de direcionar investimentos para os Jogos Olímpicos do Rio", afirma a empresa.

É normal na área de marketing patrocinadores irem e virem. Mas o fato é que este ano esse movimento trouxe um orçamento menor, diz o presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Paulo Sérgio Ferreira.

— Perdemos uns 30% dos patrocinadores do ano passado e conseguimos uns 20% novos.

Ele afirma que o espetáculo não está comprometido e que as escolas conseguiram fazer belas alegorias com ajustes de custo trocando, por exemplo, materiais importados por nacionais.

A Liesa, do Rio, também sentiu dificuldade nos patrocínios deste ano, segundo o diretor comercial da Liesa, Hélio Motta.

— Além da crise, o carnaval foi mais cedo. Atropelou tudo.

As ligas das escolas negociam com as marcas espaços para anúncios na avenida e a venda de camarotes corporativos. Pela primeira vez em seis anos, a Liesa não conseguiu vender todos os seus 410 camarotes e distribuiu 36 deles entre as escolas. Segundo coordenador geral de vendas da Liesa, Heron Schneider, as vendas já estavam fracas em 2015, tanto que a Liesa desistiu de reajustar preços dos espaços - que vão de R$ 50 mil a R$ 800 mil.

— O problema foi os espaços pequenos, de 18 lugares, afetados pela crise. Antes tinha fila para comprar. Ano passado vendemos tudo nos 45 do segundo tempo. E este ano sobrou camarote.


As ligas de São Paulo e Rio ignoraram a inflação e seguraram os preços dos ingressos para tentar lotações maiores e compensar a perda de patrocínio, explicou Ferreira.

— Fizemos ajustes no calendário, para colocar desfiles de escolas com grande torcida nos dois dias. E seguramos o preço do ingresso. Esperamos um público maior.

Algumas escolas vão desfilar sem patrocinadores. É a primeira vez desde 2000 que isso ocorre com a Unidos da Tijuca. Ano passado, seu samba enredo homenageou a Suíça e ganhou patrocínio da Nestlé, de acordo com o presidente da escola, Fernando Horta.

— Vamos falar de agronegócios este ano e esperávamos o patrocínio do município de Sorriso (MT), que não ocorreu.

Além dos patrocínios, as escolas recebem repasse de direito de imagem da Rede Globo e uma participação na venda de ingressos. O desfile da Unidos da Tijuca custa cerca de R$ 13 milhões, mas faltarão R$ 2,5 milhões para a escola fechar a conta.

Enquanto marcas saem do carnaval, outras conseguem seu espaço. Um dos sócios da Frooty Açaí, Rogério Oliveira, sugeriu em 2011 à escola paulista Pérola Negra um enredo sobre açaí. Neste ano, o tema emplacou na X9 Paulistana.

— Somos líderes de mercado, quanto mais pudermos fomentar a cultura do açaí, melhor para nosso negócio.

A Frooty Açaí, que produz 70 toneladas por dia do produto, é exportadora, ganha com a alta do dólar e cresceu 30% em 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui