terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

POLITICA INTERNACIONAL: ELEIÇÕES EUA

Conservadores ou liberais? 
Estados Unidos caminham entre expansão progressista e guinada conservadora:
Ex-senador Suplicy vê conquistas e professor aponta ambivalências; país tem novas primárias.
Hillary ganhou apertado primária inicial e disputa outra nesta terça.
Maior economia de mercado, com PIB de mais de US$ 16,7 trilhões (R$ 65,1 trilhões), 19% do mundo. Berço do capitalismo, polo industrial e centro tecnológico. Centro financeiro do planeta. Todas essas características poderiam fazer dos Estados Unidos os guardiões do neoliberalismo global. 

Nestas eleições (a serem realizadas em 8 de novembro próximo) e durante os anos do governo de Barack Obama, ficou claro, porém, que essa denominação é insuficiente para definir um país dividido. Em poucos momentos da história, diferenças entre a maioria dos democratas e republicanos foram tão grandes como nos momentos atuais. 

Principalmente quando o país se torna a cada dia mais multicultural. Nova York e outras cidades se multiplicam em traços latinos, negros, poloneses, italianos, chineses, árabes, judaicos e... até americanos.

Nesta terça-feira (9), o senador Ted Cruz, que saiu na frente na disputa contra o falastrão Donald Trump (28% a 24%), busca manter o fôlego conservador na segunda etapa das primárias republicanas, a serem realizadas em New Hampshire. 

Na mesma data e cidade, os também senadores Hillary Clinton e Bernie Sanders, principais candidatos democratas, disputam mais uma fatia do eleitorado nas primárias do partido.

O ex-senador do Brasil, Eduardo Suplicy, economista, afirmou ao R7 que o antagonismo de ideias nos Estados Unidos tem refletido a realidade de um país ideologicamente dividido.

— Vejo com bons olhos o crescimento da candidatura de Bernie Sanders, assim como posturas do governo Obama, que, entre outras coisas, inova na legislação para o controle de armas, amplia o acesso ao sistema público de saúde e realiza a aproximação com Cuba.

Para ele, o que mais chama a atenção nesse cenário são as duas vertentes distintas que vêm crescendo em uma disputa equilibrada.

— Nos Estados Unidos, se de um lado há uma visão mais progressista ganhando força, há também o aparecimento de candidaturas muito conservadoras, como a de Donald Trump, que têm causado enormes controvérsias.

Disputas internas

Os republicanos, que têm maioria na Câmera Federal, mostram-se fartos com a postura pacificadora de Barack Obama no cenário internacional, criticam subsídios federais a planos de saúde e visam reduzir o imposto de renda. 

Poucas vezes, porém, o "socialismo" americano esteve tão forte. O próprio candidato que se proclama socialista, Bernie Sanders, vem ganhando vigor e ameaçando o favoritismo de Hillary Clinton entre os democratas (na primeira prévia, Hillary venceu por 49,8% a 49,6%).

O professor de direito internacional pela Uniceub Danilo Porfírio de Castro considera que a ambivalência entre republicanos e democratas reflete as diferenças na sociedade americana.

— O mais interessante para quem vê de fora é saber qual lado irá prevalecer nessa ambivalência. Estamos curiosos para conhecer o atual pensamento do americano médio. Haverá a ampliação da força progressista, presente mais nas grandes cidades, ou uma guinada conservadora, mais atuante no interior do país, a chamada América profunda?

Neste cenário, além dos republicanos, há diferenças entre os democratas, segundo o professor.

— A Hillary não representa o pensamento de Obama, diverge em relação à ação externa do atual governo e, inclusive, na implantação do Obamacare (reforma da Saúde). Já o Sanders tem uma plataforma muito mais pró-social, mais à esquerda do que o próprio Obama.

A bandeira defendida por essa ala do partido, representada por Sanders, vem se fortalecendo desde 1999 quando, em Seattle, manifestantes contrários à especulação financeira e ao neoliberalismo criticaram a reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) e colocaram um fim à Rodada do Milênio.

O conceito dos manifestantes, que prioriza a distribuição de renda, foi ganhando espaço em várias cidades, culminando em 2012 com o Occupy Wall Street, movimento de pessoas que tomaram praças públicas para protestar contra a desigualdade social. Castro, porém, afirma que uma ruptura de sistema não faz parte do discurso de Sanders.

— O Sanders não é socialista. Ele usa esse termo mais como uma propaganda. Na verdade, ele é socializante, um liberal político. Na visão liberal política, há a busca da promoção econômica individual do cidadão, sem matar o individual. No socialismo, não há essa emancipação da vontade política do indivíduo.

Essência econômica

Suplicy, por sua vez, acredita que, mesmo no capitalismo, pode haver distribuição de renda justa. Ele cita o próprio Estado americano do Alaska, que, assim como outras regiões do mundo, aderiu a um programa de renda mínima defendido pelo ex-senador brasileiro, atual secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

— Desenvolvimento, se for para valer, precisa ter em sua essência econômica a capacidade de proporcionar maior grau de liberdade para todos. Só tem sentido desta maneira.

Segundo ele, as economias de mercado não estão desvinculadas dos direitos sociais. Vários economistas de peso, como Anthony Hopkins, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, têm defendido iniciativas de inclusão dentro de economias capitalistas, conforme conta Suplicy.

— É fundamental que esse sistema capitalista tenha instrumentos que possam ao mesmo tempo permitir a boa alocação de recursos, mas de maneira a prover a justiça, a liberdade e maior igualdade. 

Essa contradição entre capitalismo e socialismo, segundo ele, pode ser desfeita quando os interesses da maioria prevalecem. 

— É possível se criar instrumentos que elevem o grau de justiça em cada tipo de sociedade.

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