terça-feira, 15 de março de 2016

'Para ela a vida é assim', diz pai de síria de 5 anos que só conhece a guerra

Guerra da Síria faz 5 anos, mesma idade de Mira, que mora em Damasco, Família tenta manter a rotina normal, apesar da restrição de movimentação
Mira Almidani, 5, em foto tirada pela tela do computador durante entrevista (Foto: Reprodução/Skype)Mira Almidani, 5, em foto tirada pela tela do computador durante entrevista (Foto: Reprodução/Skype)



Aos cinco anos de idade, a síria Mira Almidani não sabe o que é viver em um país sem guerra. Ela nem fala do assunto com os pais. "Ela cresceu aprendendo que a vida é assim", diz seu pai, Ahmad, um comerciante de 47 anos.

Considerado o principal conflito da atualidade, a guerra da Síria completa nesta terça-feira (14) cinco anos -- mesma idade de Mira.

A garota, que se mostrou sorridente e simpática na conversa do G1 pelo Skype com sua família, teve mais sorte do que outras crianças que moram em cidades como Aleppo, Raqqa e Palmira, onde os moradores convivem diariamente com bombas, tiros e o controle de jihadistas do Estado Islâmico.

Mira vive em Damasco, capital do país, que ainda está sob o domínio do governo e mantém alguma normalidade no meio do caos que se apodera de outras regiões sírias. E é isso que os pais dela tentam fazer: manter a rotina o mais normal possível.

Sem poder conhecer o mar
Mira com a irmã, Muzna, de 10 anos, em foto tirada pela tela do computador durante entrevista (Foto: Reprodução/Skype)
Ahmad, que é comerciante e vende roupas e bijuterias, afirma que conseguiu manter o orçamento da família, mesmo com a economia fraca da qual outros moradores se queixam. Sua mulher, Rahaf, de 37 anos, não trabalha e cuida da casa e das filhas -- além de Mira, eles têm uma menina de 10 anos, Muzna.


O casal sai para passear com as meninas, mas não consegue ir muito longe. Eles só visitam parentes que moram dentro de Damasco, já que nos arredores há muitas zonas de conflito. "O que mudou na nossa rotina foi a restrição de movimentos. Não podemos mais fazer passeios para fora porque não é seguro sair", diz Ahmad, que se pudesse, levaria Mira para conhecer o mar. A maioria da família de Ahmad continua na Síria: apenas um primo migrou para o Brasil com a mulher e a filha pequena. O comerciante diz que ninguém esperava que o conflito fosse se estender por tanto tempo. Mesmo assim, não pensa em sair do país. "Essa é a minha terra. Nós somos felizes", diz.

Ele espera que as filhas possam viver em breve em um ambiente de paz. "Somos obrigados a lidar com essa realidade [da guerra], então o jeito é ter paciência. Como qualquer pai, espero que elas tenham um futuro maravilhoso." lheia à conversa sobre o assunto grave, Mira termina a entrevista cantando uma cantiga local e mandando um recado em árabe para os brasileiros: "Ana behebkon ktir" (eu amo muito vocês).  

Há cinco anos o presidente Bashar al-Assar enfrenta uma rebelião armada que tenta derrubá-lo do poder. O dia 15 de março de 2011 é considerado o ponto inicial do conflito por ter sido a data do primeiro grande protesto reivindicando mais democracia e liberdades individuais, após adolescentes que pichavam muros na cidade de Daraa terem sido presos e torturados, o que gerou revolta popular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui