segunda-feira, 18 de abril de 2016

Autora do projeto de impeachment vive momentos de celebridade em SP


Janaína Paschoal tira selfie com fã na Avenida Paulista, domingo
Janaína Paschoal posa para fotos mas rejeita rótulo de ‘salvadora da pátria’

Uma selfie a cada três minutos. Foi com essa frequência que a advogada Janaína Paschoal foi interpelada durante o período de pouco mais de uma hora em que O GLOBO a acompanhou pela Avenida Paulista, durante a sessão da Câmara dos Deputados que votou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, de autoria dela.

— Isso é muito louco porque eu não sou artista, mas as pessoas passaram a dizer que são minhas fãs. Essa semana mesmo, na banca do peixe na feira, a vendedora me perguntou se eu trabalhava na TV — relatava a advogada, entre um gole e outro de seu café com leite duplo e adoçante.

— O meu medo é que as pessoas reconheçam em mim uma salvadora da pátria. Acho que essa coisa do endeusamento de algumas pessoas é parte do problema do Brasil e ajuda a explicar como chegamos aqui. Não concordo também com o endeusamento do Dr. Moro — afirmou, em referência ao juiz Sérgio Moro, que julga os processos da Operação Lava-Jato.

Ela mal terminara de se servir quando a garçonete da cafeteria a abordou, com o celular em punho, para um autorretrato das duas.

— Precisamos de pessoas assim — declarou, dizendo-se arrepiada com a presença da jurista.

Janaína foi assistir à votação dos deputados em algum dos muitos telões que transmitiam a sessão na Avenida Paulista, “como todo mundo está fazendo”. Animou-se com o som de um dos trios elétricos e cantarolou os primeiros versos de “Que país é esse?”, música da Legião Urbana. Diante do gigante pato inflável ostentado pela Fiesp, disparou:

Esse pato é lindo!

Embora tivesse sido convidada para discursar em todos os carros de som dos Movimentos Brasil Livre e Vem pra Rua, entre outros, a advogada pretendia ter participação discreta no evento. Na Avenida, o marido, os irmãos e os cunhados já a esperavam.

FAMÍLIA PETISTA

— Está todo mundo aí, menos a família do meu marido, que é petista. Eles estão meio chocados. Deve ser difícil pensar que sua nora está tirando sua presidente, eu entendo o desconforto deles — disse.

As diferenças de Janaína com o PT são antigas. No fim dos anos 1980, ela frequentou um grupo de jovens de uma igreja católica no Tatuapé, bairro onde foi criada. Conta que nunca se identificou com a Teologia da Libertação, corrente religiosa que se ligou à esquerda brasileira. E que, nos debates de juventude, achava que os petistas sempre se colocavam como “donos do discurso”. Jamais votou no partido.

— Você fez muito pelo país. Se não fosse você, já tínhamos ido para o buraco — entusiasmou-se a empresária Iani Melo, de 57 anos, que não hesitou em pedir também uma foto com a jurista, que não recusou.

— Eu sou muito pegajosa, gosto dessa troca de energia — justificava-se a autora do processo, retribuindo com efusividade dos abraços e dos sorrisos que recebia.

Na abertura da votação, a multidão na Paulista aplaudiu com furor quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, mencionou o nome de Janaína entre os que assinavam o pedido. A advogada recebeu as palmas em semianonimato.

— Você que é a Janaína, não é? Sou advogado e queria ser um terço do que você é — afirmou Roberto Scervino, que só se despediu depois de fazer um registro da advogada.

Assim que o primeiro deputado votou a favor, ela cerrou o punho para o alto, em comemoração, misturando-se aos milhares que festejavam como um gol o “sim”.

POLÍTICA APARTIDÁRIA

A despeito da popularidade, Janaína rechaça a possibilidade de ser candidata a um posto público:

— Do jeito que eu sou, eu não sirvo para partido nenhum, só faço as coisas em que acredito. Gosto de política não partidária. Quem tem que se candidatar é essa meninada do MBL, do Vem Pra Rua. Essa vida da política é muita decepcionante. Você vê o Lindberg (Farias, senador do PT), que estava com a gente no Fora Collor, e olha agora a decepção — opinou Janaína, que também participou do “Fora Collor” como estudante de direito da USP.

Diante da enorme mobilização política e social que ajudou a promover, Janaína se dizia “aliviada” e com a “consciência tranquila”. Pediu licença e, com os cabelos presos, colocou um par de óculos escuros que cobriam quase todo seu rosto e afundou um chapéu estilo Panamá na cabeça. De chinelos de dedo e blusa verde, foi assistir à votação incógnita na multidão.

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