quinta-feira, 14 de abril de 2016

Dilma diz que Temer e Cunha são "sócios no golpe" e propõe um pacto se barrar o impeachment

André Coelho


Dilma Rousseff recebeu no início da manhã um grupo de dez jornalistas para uma entrevista em seu gabinete no Palácio do Planalto. Na conversa de mais de duas horas, Dilma admitiu a possibilidade de derrota na votação de domingo. Já no final da entrevista, foi direta em relação ao seu futuro político no caso de o impeachment prospere, ou seja, se for derrotada na Câmara e no Senado: 

— Se eu perder, sou carta fora do baralho.

Embora tenha ressaltado que não faria "uma entrevista bem comportada", Dilma queria basicamente passar alguns recados.

*Associar Michel Temer e Eduardo Cunha, a quem chamou de sócios.

*Dizer que o impeachment é golpe ("impeachment sem fundamentação é um salto no escuro que marcará profundamente a história política do Brasil").

* E propor um pacto, se conseguir barrar o impeachment no domingo.

Na entrevista, dada no Palácio do Planalto, tendo ao seu lado o ministro Edinho Silva, Dilma atacou com violência a dupla Cunha e Temer ("Só não sei quem é o chefe e o vice-chefe. Mas eles são sócios. Um não age sem o outro.").

Em relação ao pacto, ficou uma interrogação no ar. Dilma não conseguiu detalhar uma agenda para a ideia. Se disse aberta ao diálogo com a oposição a quem convidaria para conversar.

Mesmo sem ter explicado que pacto seria esse, disse que só ela poderia fazê-lo. E se referindo a Temer, a quem nunca citava pelo nome, afirmou que não existe pacto "sem a legitimidade do voto".

— Seria uma repactuação com todas as forças políticas, com a oposição e com os movimentos sociais.


Em nenhum momento, Dilma conseguiu se dizer otimista em relação à votação de domingo. Mas garantiu que lutará "até o último minuto contra esta tentativa de golpe".

A presidente criticou também o relatório aprovado na Comissão do Impeachment, na segunda-feira. Qualificou-o de "uma fraude".

Os alvos preferidos foram mesmo Temer e Cunha. No caso de Cunha faz parte da estratégia do Planalto usar a merecidamente péssima (e bota péssima nisso) imagem pública do peemedebista para tirar a legitimidade do impeachment.

Ela criticou também o conteúdo do áudio vazado anteontem em que o seu vice fala de seu projeto de governo, caso o impeachment seja aprovado ("Foi um vazamento para si mesmo. Algo fantástico"). Ali, Temer fala que o estado deve prover a segurança, a saúde e a educação. 

— A visão do estado mínimo é uma visão primária. Isso só serve para países desenvolvidos. E às vezes, nem isso, vejam o caso da Dinamarca.

De olhos um pouco vermelhos e demonstrando irritação apenas ao falar do impeachment, Dilma negou-se também a fazer qualquer autocrítica sobre sua relação com o Congresso. 

Garantiu que não passa pela sua cabeça a possibilidade de enviar ao Congresso um projeto propondo eleições gerais. Mas que respeita uma proposta que passe pelo voto popular.

O governo vai, sim recorrer ao Supremo, se for derrotado no domingo, mas Dilma não admitiu isso com todas as letras. Disse que isso não foi decidido ainda e se for, quando recorrerá.

Nos bastidores, porém, seus assessores confirmam a ida ao STF. Dilma disse que "o presidente da Câmara", a quem nunca chamou pelo nome durante a entrevista, cometeu irregularidades no processo. Não deu exemplos, porém, exceto que "o rito do direito de defesa" teria sido atropelado.

A presidente repisou um tema que ministros e petistas em geral martelam — "os vazamentos dirigidos". Disse Dilma:

— Nos EUA, um vazamento desses anula toda a investigação.

De fato. E no Brasil funcionava assim também. Mas o Judiciário, incluindo ái o STF, mudou de posição em relação a esse tema nos últimos anos.

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