domingo, 24 de abril de 2016

Refugiados: Sabores de uma vida nova depois da guerra da Síria

Saer Nahme prepara lanches no restaurante: ele trouxe a família para o Rio.
Apontando para um bordado em seu uniforme, no qual se lê “Chef Saer”, e arriscando algumas palavras em português, um simpático sírio serve a clientes do restaurante Arabian Way, na Rua Buenos Aires, no Centro, um shawarma, lanche feito com fatias de carne bovina ou frango assadas em um espeto. Na cozinha, seus dois irmãos, Milad, de 52 anos, e Samer, de 45, ficam encarregados do preparo de esfirras e doces árabes. A família começou a chegar ao Brasil em outubro de 2015, fugindo da guerra na Síria, e se estabeleceu no país com a ajuda da Sociedade Ortodoxa São Nicolau, que abriga pelo menos 15 famílias no prédio da igreja, no Centro.

Aos 40 anos, Saer Nahme foi o primeiro da família a chegar ao país. Seus irmãos vieram dois meses depois. Há algumas semanas, Saer finalmente conseguiu trazer para o Rio o pai, a mulher e os dois filhos. Todos estavam na cidade de Hama, onde trabalhavam no ramo de panificação. Saer tem um outro irmão, que mora no Líbano. Foi ele quem conheceu Ghabi Hajj, libanês que é dono do restaurante no Centro, e disse à família para procurá-lo no Brasil.

— Minha cidade era bombardeada todos os dias, e eu temia que os ataques atingissem os edifícios onde morávamos — conta em árabe Saer, que é traduzido pelo gerente do restaurante, o libanês Toufic Hajj, sobrinho de Ghabi.

Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), dos 8.600 estrangeiros recebidos no Brasil, 2.200 vieram da Síria. Os irmãos que trabalham no restaurante do Centro não fazem parte dessa estatística, pois vieram com visto de trabalho, emprego e lugar para ficar.

Débora Alves, assistente social da Cáritas do Brasil, entidade que também acolhe refugiados, diz que ainda há muito o que melhorar nas políticas públicas. Segundo ela, o trabalho realizado pela entidade, assim como o da Sociedade Ortodoxa São Nicolau, ajuda a aliviar a situação dos que chegam sem recursos, trabalho e lugar para morar.

— No caso dos refugiados da Síria, estamos conseguindo apoio porque a guerra está gerando uma grande comoção. Tem bastante gente conseguindo emprego no comércio, principalmente no ramo da culinária — informa Débora.

Ela diz que as vagas oferecidas pelo poder público em abrigos são escassas, e nesses locais os refugiados acabam convivendo com brasileiros envolvidos com drogas.

Vice-presidente da Sociedade Ortodoxa São Nicolau, Luis Riche concorda que a falta de infraestrutura para acolher os refugiados ainda é um problema, mas destaca que, mesmo assim, eles encontram aqui um cenário melhor do que aquele que deixaram para trás:

— Recentemente, reuni um grupo de sírios e perguntei se pretendem voltar para seu país após o fim da guerra. Nenhum disse “sim”.

É o que pensa Saer. Ele afirma que só retornará à Síria para visitar amigos. Seus irmãos que trabalham no restaurante são solteiros, sem filhos. Dos três, ele é o que mais absorveu a cultura carioca: já visitou o Cristo e gosta de frequentar as praias e a Lapa. No carnaval, foi à Sapucaí.

— O Brasil é um país bom, gosta de receber os outros — garante Saer.

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