domingo, 5 de junho de 2016

Medo de novas baixas no Ministério assombra o governo de Temer




Pelo menos cinco ministros são investigados no STF; outros dois são citados na Lava-Jato.

Apesar de ser interpretado por alguns como um bom indicativo de que o presidente interino, Michel Temer, se diferencia do governo anterior, as demissões rápidas de ministros pegos em irregularidades têm levado insegurança e preocupação aos titulares da Esplanada dos Ministérios. Com cinco ministros investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e dois citados na Operação Lava-jato, o medo da degola a qualquer momento, por pressão da opinião pública, tem levado a um clima de apreensão e de críticas ao que chamam de “fraqueza” de Temer.

Na reunião ministerial, logo depois da posse, Temer avisou a seus ministros: quem errar, está fora do governo.

— Meu governo será implacável com quem cometer ilegalidade — afirmou.

O primeiro a cair foi o ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), logo após a divulgação do grampo em que aparece conversando com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, dizendo que o impeachment “estancaria a sangria”. Na última segunda-feira foi a vez do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, também flagrado em conversa gravada por Machado em que orienta o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em sua defesa nas investigações da Operação Lava-Jato. Após a divulgação da conversa houve uma onda de manifestações de servidores da Controladoria-Geral da União e de partidos da nova oposição, encabeçada pelo PT.

Em menos de 12 horas, Fabiano estava fora. Temer não segurou a pressão e aceitou sua demissão, como ocorreu também com Jucá. Agora muitos acham que estão na corda bamba.

— Acho um risco esta atitude do presidente Michel. Muitos tem problemas. Isso só vai valer para a Lava-Jato? Eu, pessoalmente, não teria cedido. Mas não estou nas calças dele… — desabafou um dos ministros mais estratégicos da Esplanada.

MEDO DE DELAÇÃO DE SÉRGIO MACHADO

De volta ao Senado, Romero Jucá — a primeira “vítima” das saída imediatas — diz que o governo interino de Michel Temer sofreu “um ataque especulativo”, em que todo dia os adversários criam um fato para tumultuar. Mas pede calma aos ministros e avalia que dentro de 45 dias Temer terá se livrado desses “ataques”, e o governo começará a se desenvolver naturalmente. Jucá diz que partiu dele e de Fabiano Silveira a decisão de se afastar para estancar os ataques a Temer.
— Enquanto o processo do impeachment estiver aberto vai ter ação e reação todo dia. Todo ministro é demissível ad nuto, mas qualquer investigação tem que esperar o resultado. Tem que ter calma. Se depender da oposição não vai acalmar. Mas o jogo segue — diz Jucá.

O chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, minimiza a preocupação dos ministros com o tema:

— Ele, Temer, disse isso antes da posse. Não há surpresa.

O que tem levado pânico à Esplanada são os grampos feitos por Sérgio Machado como parte de sua delação premiada. Foi exatamente uma gravação do ex-presidente da Transpetro e ex-senador que tirou Jucá da Esplanada.

— O clima é só de defender das “Machadadas”, e seja o que Deus quiser — diz o líder de um dos partidos da base que tem ministros na Esplanada.

As citações envolvendo nomes da Esplanada são variadas. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é investigado no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava-Jato. No ano passado, sua casa chegou a ser alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal.

Citado em uma das delações premiadas por supostamente defender interesses da construtora OAS, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima se defendeu dizendo que é uma citação banal. O ministro do núcleo mais próximo a Temer afirmou ainda que qualquer integrante do governo que for citado na delação da Odebrecht terá de dar explicações.

Maurício Quintella (Transportes) responde a processo por suspeita de fraudes em merenda escolar quando foi secretário de Educação em Alagoas. Ricardo Barros (Saúde) é investigado por fraude em licitações na prefeitura de Maringá (PR).

Há casos de ações de improbidade, herdados de administrações passadas. José Serra (Relações Exteriores) responde por fatos de quando ocupou o Ministério do Planejamento no governo Fernando Henrique. Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) é alvo também de ações de improbidade relativas à sua gestão como prefeito de SP.

FUTURO DA AGU SERÁ DEFINIDO NA SEGUNDA

Michel Temer se reunirá na segunda-feira com o ministro Eliseu Padilha para definir a situação do chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Fábio Medina Osório. O colunista Jorge Bastos Moreno, Temer decidiu demitir Osório depois que ele se envolveu em uma confusão ao tentar embarcar em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para Curitiba.

O presidente interino descobriu ainda que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, só revogou sua decisão de demitir o presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Ricardo Melo, nomeado pela presidente afastada Dilma Rousseff, porque o advogado-geral da União, que deveria fazer a defesa do governo, estava na viagem a Curitiba. Osório é afilhado político do ministro da Casa Civil.

— Já preparei o presidente de que havia a nota e ficamos de voltar a conversar na segunda-feira. O governo não resolve suas questões por intermédio da imprensa. O governo resolve suas questões internamente. Quando se joga para fora acaba prejudicando, porque expõe o governo a um debate que não precisa existir, seja para ele ficar ou para não ficar — disse Padilha 

No sábado, Osório negou “qualquer tipo de embaraço” com a FAB. Em nota, a assessoria do advogado-geral da União disse que ele tem prerrogativa legal para requisitar os serviços da Aeronáutica e que não houve problema durante o embarque para Curitiba. Sobre a decisão de Toffoli, Osório afirmou também que não cabia a ele "elaborar nota técnica de defesa do ato" porque a "AGU tem que atuar com distanciamento, na medida em que há dois atos de Presidentes da República, sob questionamentos".

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