quarta-feira, 13 de julho de 2016

Candidato do PMDB torna eleição à presidência da Câmara imprevisível

Marcelo Castro, que foi ministro de Dilma e votou contra impeachment, é o candidato do PMDB. Base de Temer vê seu nome com desconfiança
Quatorze deputados registram candidaturas; eleição está marcada para as 16h.

Na véspera da eleição para a presidência da Câmara, o surgimento do candidato oficial do PMDB aumentou a incerteza do resultado. A avaliação inicial é que a candidatura de Marcelo Castro (PI), escolhido na terça-feira pela bancada do partido, pode levar boa parte dos votos da nova oposição, especialmente do PT e do PCdoB, afetando a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Castro foi ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff e votou contra o impeachment da presidente afastada.

O movimento do PMDB, no entanto, levou os partidos da antiga oposição — PSDB-DEM-PPS e PSB — a agir: Júlio Delgado (PSB-MG) retirou sua candidatura. O PSDB deve anunciar o apoio ao candidato Rodrigo Maia às 11h da manhã, unindo essa parcela da base aliada de Temer contra a candidatura mais forte do centrão, a de Rogério Rosso (PSD-DF).

A eleição está marcada para a tarde desta quarta-feira, com o início da sessão previsto para as 16h. O número elevado de concorrentes deve fazer com que a definição só ocorra na madrugada de quinta-feira. Até a noite de terça-feira, 14 deputados haviam registrado suas candidaturas.

O último foi o decano da Câmara, Miro Teixeira (Rede-RJ), com 11 mandatos. Ele próprio disse se tratar de uma “anti-candidatura”. O eleito comandará a Câmara num mandato-tampão de pouco mais de seis meses, até fevereiro do próximo ano.

— Obviamente, a candidatura do PMDB deu uma mexida no tabuleiro da eleição, mas trabalhamos a unidade do nosso grupo, a união informal dos partidos da antiga oposição. E vamos aguardar o segundo turno para conversas com o PMDB — afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).

Rodrigo Maia manteve as críticas a Rosso, mas também alfinetou o lançamento da candidatura peemedebista:

— Uma candidatura não cai do céu. Não sei (qual a estratégia). O PMDB é um partido experiente. Ainda tento entender o que aconteceu. Estamos conversando, mas a aliança (do DEM) com o PSDB é natural, é mais fácil. O que precisa explicar é mais difícil. Esse campo (os quatro partidos da antiga oposição) juntos, com paciência e inteligência, é o único organizado para ganhar a eleição — afirmou Maia.

PT AINDA NÃO DECLAROU APOIO A UM CANDIDATO

Juntos, PSDB, DEM, PPS e PSB têm 119 deputados. Os defensores da candidatura de Maia creem que ele poderá agregar votos em outras bancadas, chegando a 150, garantindo assim a ida ao segundo turno.

Há, porém, quem aposte que Maia não leve todos os votos desses partidos. No PSDB, por exemplo, há simpatia por outro candidato do centrão: Esperidião Amin (PP-SC). Os tucanos criticaram a candidatura de Marcelo Castro, por achar que ela representará uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A nova oposição, liderada pelo PT, ainda não oficializou seu apoio a uma das candidaturas, mas muitos deputados petistas, do PCdoB e até do PDT elogiaram a entrada de Marcelo Castro no páreo. Líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o perfil do candidato que esses partidos apoiarão está definido: ter votado contra o impeachment, ser anti-Cunha, garantir a volta à normalidade e respeitar a democracia na Casa.

— Marcelo Castro tem um lastro de ter enfrentado Cunha em todos os momentos na Casa. Planalto e Cunha eram contra Marcelo Castro na disputa. Castro sai com uma candidatura contra Cunha e o centrão. Por isso, todas as bancadas rediscutirão os apoios — disse Jandira.


Rogério Rosso (PSD-DF)Ele já foi fiel a Dilma e, com o 'despertar' do impeachment, mudou de lado. Presidiu a comissão especial do impeachment. É grato a Cunha por isso, mas tenta se desvicular do ex-presidente da Câmara. Já foi governador-tampão no Distrito Federal.

No centrão, além da candidatura de Rosso, o nome de Fernando Giacobo (PR-PR) aparece com força. Ele conta com o apoio do presidente de fato do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que negocia apoio com petistas. Mas Giacobo também pode ter sido prejudicado pela entrada de Castro na disputa.

Na terça-feira, Marcelo Castro negou ser o candidato anti-Cunha e que tenha recebido o apoio do ex-presidente Lula. O ex-ministro da Saúde disse que é candidato a favor da Câmara, afirmou torcer para ter o voto de petistas e da esquerda e classificou sua candidatura como “um alívio” para o governo Temer. Para Castro, o correto é o governo não interferir na disputa.

— Serei o candidato do Parlamento. Um Parlamento nem submisso, nem arrogante — disse Marcelo Castro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui