terça-feira, 9 de agosto de 2016

Perda da mãe, distância do pai, briga com irmã: a Ingrid como você não viu

Ingrid Oliveira, dos Saltos Ornamentais (Foto: Felipe Siqueira)

Famosa após foto receber comentários ofensivos e maliciosos no Pan de 2015, atleta conta seu drama pessoal antes de estrear nos Jogos do Rio, nesta terça-feira, às 16h
Ingrid Oliveira. Você já deve ter ouvido falar desse nome. Se não, ao menos já viu alguma foto dela. Vamos refrescar sua memória. A jovem de 20 anos ficou famosa no Pan de Toronto 2015 após uma foto sua de maiô - sua vestimenta de trabalho, diga-se de passagem - receber uma enxurrada de comentários maliciosos e ofensivos nas redes sociais. Na mesma competição, tirou a nota zero em um salto na primeira fase, mas se recuperou e terminou com a medalha de prata nas duplas, com Giovanna Pedroso. 
Este é o lado que você conhece de Ingrid. O outro você vai ter a chance de conhecer agora. A história da menina vai muito além dos atributos físicos. Por trás da risada fácil há obstáculos que fazem as quedas de 10m de altura parecerem moleza. Um caminho que deixou marcas. E que ela conta de frente, de peito aberto, e coração na boca. Ela estreia nos Jogos Olímpicos do Rio nesta terça, às 16h, na plataforma de 10m sincronizado, mais uma vez ao lado de Giovanna, no Maria Lenk. 

Ingrid vem de uma família humilde. Morava com a mãe, Dona Nice, e a irmã Erica no bairro de Vista Alegre, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Levava quase 2h30 para ir e mais 2h30 para voltar dos treinamentos, na sede do Fluminense, nas Laranjeiras, Zona Sul do Rio. Talentosa, logo foi chamada para a seleção brasileira de saltos ornamentais. Em 2013 sofreu a maior queda de sua vida. Havia acabado de ficar seis meses treinando com a equipe na China. Ao retornar, passou uma semana com a mãe e voltou a viajar para competir, dessa vez no Sul-Americano da Colômbia. Nesse meio tempo, a mãe, sempre tão forte, adoeceu repentinamente por causa de um problema renal. Para proteger a jovem, evitaram contar para Ingrid durante a viagem. O quadro agravou-se rapidamente e quando a saltadora voltou, dona Nice já estava em coma. Estado irreversível. Ingrid ainda teve tempo de ver a mãe, que faleceu no dia seguinte. Parecia ter esperado apenas para se despedir da filha.

- Foi a pior fase da minha vida. Fiquei sabendo quando cheguei no Rio. Eu ia voltar para casa e me falaram que ela estava no hospital. Como minha mãe odiava hospital, fiquei preocupada. Quando cheguei, ela ainda estava viva. Mas no dia seguinte, faleceu - conta a jovem com lágrimas nos olhos.

Dona Nice não realizou o sonho de ver a filha disputar uma Olimpíada. Mas será em memória da mãe que Ingrid irá competir no Rio de Janeiro.

- Não pensei em desistir porque ela queria muito me ver aqui. Então continuei. Para ela.



RELAÇÃO COM O PAI E COM A IRMÃ


Após perder a mãe, Ingrid não cogitou viver com o pai, Oscar Pereira, que mora em Búzios, região dos lagos do estado do Rio de Janeiro. Ela não tem uma relação tão próxima com ele, que se separara de Dona Nice antes mesmo de a jovem ter nascido. Além disso, como ele mora em outra cidade, a atleta teria de se afastar dos saltos.

- Sei que ele se preocupa, mas não é de ficar ligando. Mesmo quando ele morava em Niterói ele não me ligava muito. Ele nunca cuidou de mim, então não seria agora, depois de velha, que cuidaria. E se eu fosse morar com ele, eu teria que parar com os saltos. Por isso nem cogitei essa possibilidade - admitiu.

Ingrid, então, foi morar com a irmã Erica no centro de Niterói. Antes disso, precisariam se desfazer das dezenas de cachorros que Dona Nice tinha em casa. Ficaram com cinco. Como todo irmão, ainda mais os de gênio forte, as duas tinham suas brigas. Só que às vezes passavam um pouco do ponto. E foi em uma das brigas que a saltadora precisou, mais uma vez, sair de casa.

- Minha mãe tinha uns 50 cachorros. E quando ela morreu, tivemos que doá-los. Sobraram cinco e ficamos com eles. Só que eu que tinha que cuidar de todos. A minha irmã só cuidava de um gato, que nem dá trabalho direito, só faz cocô na areia. Teve uma vez que acordei atrasada para ir para o treino, ia perder a barca e não levei a rotweiller para passear. E ela fez cocô na varanda perto do quarto da minha irmã. Minha irmã pegou o cocô da cachorra e botou dentro do meu quarto. Quando cheguei, senti um cheiro horrível. Limpei tudo e ela perguntou: “Viu o presentinho?”. Aí ela começou a reclamar, e eu comecei a cantar, botei o fone de ouvido e fechei a porta. Ela arrombou a porta, e começou a tacar minhas coisas na rua. Começamos a brigar. O chão estava molhado, escorreguei, bati a cabeça no chão. Ela me arranhou, eu agarrei no cabelo dela… - conta Ingrid

Não teve jeito. Depois dessa briga, as duas tiveram que se separar. E a distância, nesse caso, ajudou na relação.

- Hoje em dia, eu morando na minha casa, e ela na dela, nós nos damos bem - revela Ingrid.

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