Em 2015, saída líquida foi de US$ 735 bi; país está entre os mais vulneráveis.
WASHINGTON - O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) publicou nesta quarta-feira um relatório onde mostra que os países emergentes tiveram saída líquida de capital de US$ 735 bilhões em 2015 e que prevê que, neste ano, ocorrerá uma nova fuga de recursos, que pode chegar a US$ 448 bilhões. O IIF destaca o Brasil com uma das nações mais vulneráveis do planeta. No capítulo denominado “Brasil: pressão em todas as frentes”, o instituto indica que o país, que perdeu US$ 108 bilhões em capitais em 2015 em suas estimativas, continuará vendo a saída de recursos neste ano. O relatório mostra ainda que a taxa básica de juros brasileira, a Selic — o BC se reúne hoje para definir o novo valor — deve terminar o ano em até 15,25% ao ano.
O IIF reúne cerca de 400 dos principais bancos, empresas de investimentos e de seguros de 70 países. O relatório afirma que, após alguns anos difíceis, os títulos e ações de mercados emergentes estão a caminho de outro ano de fuga de capitais, provocada pela desaceleração do crescimento global e pelo endividamento corporativo. Em 2014, a saída de capitais dos emergentes havia somado US$ 111 bilhões. O grupo afirmou que fortes saídas da China, que refletem preocupações com a moeda e o crescimento do país, foram o principal fator por trás das perdas em 2015. A China registrou fuga de US$ 676 bilhões em 2015, de acordo com o IIF.
— Mas a fraqueza vai bem além da China já que temos visto uma fuga persistente de capital de portfólios de uma ampla faixa de mercados emergentes, com os investidores cada vez mais preocupados com as perspectivas de crescimento e alto endividamento corporativo — disse o diretor-gerente e economista-chefe do IIF, Charles Collyns.
A organização afirmou que Brasil, Turquia e África do Sul são alguns dos países mais vulneráveis à contínua redução nos mercados emergentes devido à fraqueza na política macroeconômica, altos níveis de dívidas corporativas em moeda estrangeira e significativos déficits de conta corrente. O relatório diz que o Brasil passa por uma recessão causada “por uma profunda crise política, incapacidade de solucionar suas deficiências fiscais e em condições globais cada vez mais difíceis”.
Citando os impactos do aumento de juros dos Estados Unidos — que atrai mais capital para solo americano —, as incertezas sobre a China, a esperada redução ainda maior dos preços de matérias-primas e “pouca esperança de que o governo brasileiro tenha capacidade política suficiente para fazer os ajustes necessários”, diz o documento, o instituto espera “que o fluxo de capitais continue sob pressão em 2016”.
O IIF cita a forte depreciação do real, a perda do grau de investimentos, a redução nos lucros das empresas como fatores de risco, mas lembra que o Banco Central, por outro lado, tem atuado para atuar no mercado de derivativos de câmbio, oferecendo proteção para empresas com dívidas em dólares e que o país ainda tem um “substancial” reserva cambial.
“Os fluxos de capital privados para o Brasil devem cair novamente em 2016, com a economia continuando a encolher e o risco político permanecendo inabalável”, diz o documento, que estima que a Selic passará dos atuais 14,25% para até 15,25% no fim do ano para tentar conter a inflação em 2017. A previsão é a mesma do último relatório Focus, a pesquisa semanal do BC com analistas do mercado financeiro. “Sem uma âncora de credibilidade fiscal, a economia continua particularmente vulnerável ao estresse do mercado”, conclui o relatório.
Há alguns países bem posicionados como Índia e México. Mas com os temores sobre a China e recessão pelo segundo ano seguido no Brasil e na Rússia, muitos temem que os retornos de investimentos não devem se recuperar em breve.
Segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo BC, investidores internacionais retiraram US$ 2,3 bilhões de aplicações financeiras no Brasil (já descontadas todas as entradas de recursos) nas duas primeiras semanas deste ano.
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