segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Os novos paulistanos: 5 histórias de imigrantes e de seus filhos nascidos na metrópole que dão cara a SP

São Paulo é uma cidade construída por estrangeiros. Em diversos momentos, a cidade recebeu imigrantes que ajudaram a dar cara para a metrópole. E que são a cara dela. 
Poucos sabem que alguns dos principais nomes do golfe brasileiro — entre eles, Adilson da Silva, que deve representar o País nas Olimpíadas do Rio — são patrocinados por um empresário chinês: Yim Kim Po, 56 anos. 

Amante do esporte, o empresário chegou ao Brasil com 9 anos, vindo de Hong Kong. 

— Meu pai era marinheiro e, depois de viajar por muitos países, viu que o Brasil era o futuro. Então, mudamos para cá. 

Ele lembra da dificuldade que teve com a língua na chegada. Repetiu três vezes de ano na escola até adaptar-se e começar a pular séries. Formou-se engenheiro, trabalhou em bancos e decidiu montar o próprio negócio. 

— Montei uma agência de viagens, uma importadora e, depois a YKP. 

Hoje, o imigrante emprega cerca de 200 pessoas em sua empresa, a YKP, que atua na área de tecnologia. Aqui, casou-se com Huang Pi Chu Yim e teve dois filhos: a arquiteta Jinny Yim, 28 anos, e o engenheiro Daniel Yim, 25 anos — Daniel trabalha com o pai na YKP. 

O empresário vê São Paulo como sua casa e gosta de aproveitar a cidade. 

— Na época em que eu trabalhava em banco, na rua Boa Vista, que fica centro, gostava de ver os repentistas vindos do Nordeste na Praça da Sé. Desde 1997, estou na Berrini, que é o Vale do Silício paulistano, e gosto de ver como São Paulo muda.
A culinária paulistana ficou mais rica depois da chegada de Edgar Villar, 37 anos. 

Nascido em Cuzco, Peru, ele veio para São Paulo tentar a vida como camelô. Começou vendendo bijuterias, mas logo entrou para o ramo das quentinhas. 

No começo, ele alugou um pequeno espaço na rua Aurora, centro, para cozinhar e vender comida peruana para os conterrâneos. O negócio cresceu e hoje ele é dono das quatro unidades do Rinoncito Peruano, tido como um dos melhores restaurantes peruanos da capital. 

— Inauguramos a última unidade no ano passado. É a primeira fora do centro: fica no Tatuapé. 

Boa parte da clientela do chef hoje é de brasileiros. No Tatuapé, quase 100%. E Edgar é pai de dois novos paulistanos: Taís, 10 anos, e Alexis, 8 anos (tímido, o menino não quis aparecer na foto). 
— Conheci minha ex-mulher quando viajei de férias para o Peru. Trouxe ela para cá e tivemos filhos em São Paulo. Então acho que são brasileiros, né? 

Hoje separado, Edgar diz que se dá bem com a ex. Costuma ficar com as crianças e, quando pode, passeia com eles pela cidade. Menciona o zoológico como um ponto da capital que Taís e Alexis gostam muito. 

Mas o que a cidade dá de melhor a seus filhos é, segundo Edgar, a possibilidade de estudar. 

— Aqui pude matricular meus filhos em escola de tempo integral. É só isso que quero para eles: que possam estudar como eu não pude em Cuzco.

O engenheiro Talal Al-Tinawi, 43 anos, é um exemplo do empreendedorismo sírio em São Paulo. 

Há quase quatro anos, deixou Damasco, capital da Síria, ao lado da mulher, Ghazal, 33 anos, e os dois filhos, Riad, 14, e Yara, 11. A guerra civil em seu país o fez migar para Beirute, no Líbano, onde passou dez meses. Foi lá que, procurando de embaixada em embaixada um lugar para reconstruir a vida, decidiu vir para o Brasil. 

— Eu não conhecia nada sobre o Brasil, então perguntei qual seria a melhor cidade para mim aqui. Foi quando ouvi falar da comunidade síria que existe em São Paulo. 

De Beirute, o engenheiro entrou em contato com Amer Maasrani, sírio que vive em São Paulo há mais de uma década e que tem ajudado muitos conterrâneos a fugir da guerra. Talal passou três meses na casa de Amer e conseguiu alugar um box na feira da madrugada. Depois, foi trabalhar como engenheiro. A firma, porém, fechou as portas. 

O engenheiro e a mulher começaram então a cozinhar para fora. Na mesma época, nasceu a paulistana Sara, terceira filha do casal. No ano passado, Talal conseguiu, por meio de financiamento coletivo pela internet, dinheiro para montar um restaurante. 

Agora, está a procura de um local no Morumbi para começar o negócio — os filhos Riad e Yara têm bolsa em um renomado colégio do bairro desde que o engenheiro deu uma palestra lá sobre a Síria. 

— Agora, minha vida é o Brasil, é São Paulo. Aqui tenho o meu trabalho. Aqui, meus filhos têm onde estudar e estudam em português. Espero poder ainda visitar a Síria. Mas minha vida está aqui.
Os edifícios erguidos durante o boom imobiliário pelo qual a capital passou nos últimos anos deve-se, em parte, ao trabalho dos haitianos. 

Como a maioria de seus conterrâneos, Yonel Liberon, 34 anos, chegou a São Paulo há três anos, depois que o terremoto de 2010 destruiu Porto Príncipe, capital do Haiti, e deixou mais de 200 mil mortos. 

— Gosto de construção civil. Trabalhava com isso no Haiti e queria esse mesmo trabalho aqui. 

Logo que chegou, ajudou a erguer um prédio no Tatuapé, onde outros seis pedreiros eram haitianos. O mercado, porém, foi desaquecendo e a vida piorou no ano passado. 

— Todo dia, todo dia procuro emprego. Quero trabalhar para poder pagar aluguel e cuidar de Aicha. 

Aicha, paulistana de menos de 1 ano, é filha de Joan Bernard Rodeline, 20 anos, também haitiana. Ela chegou há dois anos. Ex-modelo, trabalhou como cozinheira até engravidar do ex-marido. Deu à luz a menina, separou-se e casou-se com Yonel. Agora, ela quer fazer faculdade.

— Quero voltar a trabalhar e poder cursar a faculdade à noite, que seria difícil em meu país. Tenho o sonho de ser médica. Assim poderia ajudar os outros e dar o melhor para minha filha: que ela possa estudar, ter uma casa, depois um carro.

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