sexta-feira, 1 de abril de 2016

CASO BIZARRO: Advogado é preso por matar homem que não morreu.

Um corpo sem identificação e uma sucessão de erros levaram Aldenor Ferreira da Silva a pagar por um crime que nunca aconteceu. O Repórter Record Investigação desta quinta-feira (31) contou a história do homem que foi condenado pelo assassinato de uma pessoa que, na verdade, estava viva
Um corpo sem identificação e uma sucessão de erros levaram Aldenor Ferreira da Silva a pagar por um crime que nunca aconteceu. Nesta quinta-feira (31) ele contou a história do homem que foi condenado pelo assassinato de uma pessoa que, na verdade, estava viva.
Foram 30 anos de luta, tentando provar que era inocente. Mesmo assim, Aldenor acabou condenado a 20 anos de prisão por sequestro, extorsão e homicídio. Ele foi preso no dia 18 de agosto de 2004 por um crime de 1980, 24 anos depois do suposto assassinato.— Não tem como reverter, vai ficar pra sempre. Um pedaço da minha vida foi embora, alguém pegou esse pedaço da minha vida e jogou fora• Equipe relata bastidores da entrevista com os homens que foram presos injustamente• No R7 Play, você assiste na íntegra a todos os programas da Rede Record. Experimente!

Foram 30 anos de luta, tentando provar que era inocente. Mesmo assim, Aldenor acabou condenado a 20 anos de prisão por sequestro, extorsão e homicídio. Ele foi preso no dia 18 de agosto de 2004 por um crime de 1980, 24 anos depois do suposto assassinato.

— Não tem como reverter, vai ficar pra sempre. Um pedaço da minha vida foi embora, alguém pegou esse pedaço da minha vida e jogou fora. Um corpo foi encontrado carbonizado com sinais de tiros. Segundo a polícia, ele seria de José Augusto da Cruz Lima. Aldenor e um amigo teriam sido as últimas pessoas com quem ele esteve antes de morrer.

Na época do suposto crime, Aldenor trabalhava como detetive particular. Ele foi ajudar um amigo a recuperar um carro roubado, quando conheceu José Augusto. 

— Estava trabalhando num caso em que roubaram uma Variant 2. Naquela época, era um carrão e descobrimos que esse cara tinha dado um "tombo" nos outros parceiros dele e escondido o carro.

Eles recuperaram o carro roubado. Entre os suspeitos, estava José Augusto, que não chegou a ser preso. Pouco tempo depois, aparece um corpo que a polícia acreditava ser dele. 

— Nós deixamos o cara vivo lá e fizemos nosso dever, ajudamos a Justiça. Recuperamos um bem roubado e entregamos pra policia. Só que a polícia o chamou, meses depois, para prestar depoimento sobre esse mesmo cadáver. O processo seguiu na Justiça, sem que Aldenor desse muita importância. 
— Eu tinha tanta consciência que não tinha feito nada que não tava nem aí

Ele só ficou sabendo que estava condenado quando acompanhou um cliente até uma delegacia. 

— Disseram: “Doutor, tem um mandado contra o senhor, está sabendo?”. Fui verificar e disse que era de 1980 e que eles poderiam ter esquecido de dar baixa. Fui pra uma salinha e fiquei esperando. Esperei por uma hora. Depois me algemaram e me prenderam. 

Aldenor não voltou para casa e passou um ano, seis meses e 20 dias atrás das grades. 

— Você se sente impotente. Você está ali como autoridade, como advogado, representando a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), representando seu cliente e, de repente, você se transforma em nada. 

Em menos de dois anos, a família gastou quase R$ 200 mil com advogados e na tentativa de deixar a vida dele um pouco mais digna dentro da cadeia. Eles tiveram que fazer rifas e vender móveis para levantar o valor. Enquanto a família sentia a falta de Aldenor, ele aprendia a sobreviver dentro da prisão. 

— Vi que o importante ali era ficar quieto e não dizer mais nada. Ficava a noite toda olhando pro teto sem dormir preocupado com a minha família, preocupado com o meu futuro, porque eu não sabia o que iria acontecer comigo, As visitas eram as quartas-feiras. Geralmente era Vanessa, um irmão e a mãe que iam até a penitenciária da Papuda encontrar o pai. 

— O que mais marcou foi isso, as revistas eram horríveis. Era tratada como uma pessoa que vai visitar um bandido, mesmo ela não sendo. A gente ficava totalmente nua, tinha que abaixar, tinha um espelho pra ver se não estava entrando com droga.

Jason Barbosa de Faria só assumiu o caso um ano depois da prisão de Aldenor. Na defesa, o advogado argumentou que não havia atestado de óbito nem DNA do corpo carbonizado. Portanto, nenhuma prova de que o cadáver era mesmo de José Augusto. Esta pilha de processos é parte do roteiro do "filme" que se transformou a vida de Aldenor nos últimos anos. 

— Esse é o caso mais absurdo que eu tomei conhecimento na minha modesta carreira de advogado criminal, que já vai a 47 anos. Até hoje o cadáver não foi identificado. Aldenor atualmente pede uma indenização na Justiça de quase R$ 20 milhões. Hoje a família está mais unida do que nunca. Os bens materiais vendidos para pagar os advogados e os gastos na prisão já foram recuperados.

Aldenor visita a penitenciária da Papuda, em Brasília, pelo menos duas vezes por mês, para atender aos clientes. Ele atende de graça mais ou menos quatro casos por ano. Essa é umas das formas que encontrou para amenizar o sofrimento que enfrentou. 

Não existem dados sobre a quantidade de pessoas presas injustamente por ano no Brasil. Mas, só o Disque 100, número que serve para denunciar presos indevidamente, recebeu em 2015 131 ligações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui