quarta-feira, 8 de junho de 2016

Especialistas alegam falha na execução da obra do novo Joá


Poucos dias depois da sua inauguração, o novo Elevado do Joá já apresenta buracos no asfalto
Dez dias após inaugurada, nova via recebe remendos para tapar buracos.

Dez dias após a inauguração do novo Elevado do Joá, motoristas já precisavam desviar na terça-feira de pelo menos cinco buracos num trecho de apenas 1,1 quilômetro de pistas entre os túneis que ligam a Zona Sul e a Barra da Tijuca. O maior deles, que media quase 1 metro quadrado, segundo estimativas da própria prefeitura, formou-se na faixa da esquerda, logo após a saída do Túnel de São Conrado. No local, parte da superfície estava tão danificada que, à medida que os veículos passavam, a pista ia se esfarelando. No início da tarde, a prefeitura enviou uma equipe para remendar as fissuras no asfalto. A execução das obras do novo Joá foi fiscalizada pela Fundação Geo-Rio, do município, mesmo órgão que era responsável por acompanhar a construção da Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, cujo trecho desabou no dia 21 de abril, provocando a morte de duas pessoas.

Pela manhã, muitos motoristas acabaram passando sobre os buracos. Assim que as equipes de reparo chegaram ao local, uma fila de carros se formou ao lado dos operários. “Que vergonha esse asfalto!” gritou um deles que abaixou o vidro do carro ao passar. Pelo menos quinze motoristas fizeram questão de parar e reclamar da obra. Os operários usavam uniformes com a identificação da Geo-Rio, já que ela é responsável pela fiscalização.

ESPECIALISTAS VEEM FALHAS

Para especialistas, o mais provável é que tenha havido falha no planejamento ou na execução da obra. A questão agora é a extensão do problema. Nos últimos dias que antecederam a inauguração, ocorrida num sábado, o ritmo no canteiro de obras era frenético. Na sexta-feira, véspera da abertura ao tráfego, dezenas de operários ainda trabalhavam nas novas pistas. O engenheiro civil Ricardo Lozinsky não descarta que as falhas tenham sido provocadas pela pressa de entregar a obra, tanto para atender a prazos da agenda política como a necessidade de concluí-la antes das Olimpíadas:

É uma vergonha isso, o que causa inclusive revolta da população. Geralmente, os buracos aparecem quando a água se infiltra no solo, porque não houve a compactação adequada. Ou seja, houve erro de execução na obra.

Para o professor Gilberto Fernandes, do Laboratório de Ferrovias e Asfalto da Universidade Federal de Ouro Preto, o recapeamento pode não ser suficiente para resolver o problema:

— O asfalto tem que ser bem compactado, e a massa colocada no concreto a uma temperatura de 140 graus. Conforme a extensão das falhas na execução, a única solução pode ser refazer tudo (recapeamento) — avaliou Gilberto.

Para a engenheira civil Maria Cascão, professora da Escola Politécnica da UFRJ, a engenharia vive uma fase ruim no país. Ela lamenta que o prestígio conquistado nos últimos anos esteja se deteriorando agora:

— A engenharia brasileira sempre foi reconhecida internacionalmente. Muitos dos problemas registrados nos últimos tempos poderiam ser evitados durante a elaboração do projeto. Em um momento em que o Rio deveria estar inaugurando suas obras bem projetadas, estamos remendando intervenções malfeitas. Precisamos voltar a fazer boa engenharia.

O professor Paulo Cezar Martins Ribeiro, do programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, também suspeita de falhas antes da abertura da via para a população.

— É difícil avaliar sem inspecionar o local. Mas o fato é que um problema desses só pode ser explicado por falhas de execução.

O presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, é outro que faz críticas. Para ele, o que aconteceu no Joá se repete em outras partes do Rio, revelando que falta uma fiscalização rigorosa na fase de execução:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui